Peru suspendeu actividades de carga e descarga de petróleo da Repsol
Empresa petrolífera não forneceu garantias de que tomou providências para evitar desastres como o derramamento de petróleo do mês passado.
O Governo peruano anunciou a suspensão das actividades de carga e descarga de hidrocarbonetos por parte da petrolífera Repsol nas águas costeiras do país, duas semanas depois do maior derramamento de petróleo no litoral peruano.
As autoridades exigem que a empresa forneça “as garantias técnicas de que não irá acontecer outro derramamento no mar”, afirmou o ministro do Meio Ambiente, Rubén Ramírez. “A Repsol não demonstrou acções claras de limpeza ou de remediação perante o que aconteceu”, acrescentou.
A fuga de petróleo ocorreu a 15 de Janeiro numa refinaria operada pela Repsol, a 25 quilómetros de Lima, num momento em que um petroleiro italiano, o Mare Doricum, que transportava mais de 900 mil barris de petróleo, estava a descarregá-los. Inicialmente, a empresa informou que o derramamento estava controlado, mas nas semanas seguintes o petróleo alastrou a uma vasta área, traduzindo-se num desastre ambiental sem precedentes no Peru.
Na primeira informação divulgada, a Repsol anunciou que apenas 0,16 barris de petróleo (cada barril tem cerca de 159 litros) tinham sido derramados, tendo mais tarde reconhecido que seriam seis mil barris, antes de corrigir esse valor para 10.396 barris, quando as autoridades calcularam que teriam sido vertidos para o mar 11.900 barris (quase 1,9 milhões de litros).
O alastramento do petróleo obrigou ao encerramento de 26 praias em redor da região da capital e afectou duas áreas naturais protegidas, deixando milhares de pescadores artesanais e comerciantes balneares sem emprego, diz o El País.
A petrolífera descartou qualquer responsabilidade no derramamento, justificando a fuga com um “fenómeno marítimo imprevisível” que produziu anomalias nos ventos, com origem no tsunami causado pela erupção de um vulcão em Tonga.
A versão da Repsol foi negada por responsáveis da Marinha peruana e até pelo próprio capitão do Mare Doricum, que nos depoimentos feitos à justiça disse não haver quase vento nenhum, nem ondas elevadas, à hora do derramamento.
O Governo considera que a empresa petrolífera não actuou atempadamente para prevenir a propagação da mancha de petróleo e exige mudanças nos planos de contingência. A Repsol, disse Ramírez, “não deu certezas de que possa lidar com um novo derramamento nas outras três linhas de carga e descarga que operam no país”.
A justiça peruana está a investigar o acidente e, na semana passada, o Ministério Público pediu várias medidas cautelares, como a proibição de saída do país do director-executivo da Repsol, Jaime Fernández-Cuesta de Luca de Tena, e de outros membros da direcção da refinaria de La Pampilla.
A Repsol disse que a suspensão das actividades é uma medida “desproporcionada e irrazoável”, mas mostrou “disponibilidade plena para colaborar com as autoridades peruanas” de forma a “garantir o fornecimento dos seus produtos”.
A entidade de fiscalização ambiental peruana instou a Repsol a cumprir várias orientações por causa do derramamento, mas a empresa ainda tem três exigências por satisfazer, diz o El País. Até sexta-feira, a petrolífera ainda não tinha identificado a área total de contaminação, não realizou as actividades de contenção e recuperação do material contaminante, tanto nas zonas costeiras como nas áreas protegidas.