A 18 de Janeiro, o fotógrafo René Robert, de 85 anos, saiu após ter jantado para dar um passeio pela Rua Turbigo, bem no centro de Paris. Eram cerca das nove da noite. Mas, em algum momento, o homem caiu inconsciente.
A via, que liga a Praça da República à Igreja de Santo Eustáquio e ao Mercado Les Halles, a dois passos do Museu de Artes e Ofícios, caracteriza-se ainda por ter vários restaurantes, o que torna difícil que ninguém o tenha visto no chão. Mas Robert permaneceu caído durante cerca de nove horas, exposto ao frio, numa noite em que as previsões meteorológicas apontavam para uma temperatura mínima de 3ºC.
O fotógrafo, acusou o seu amigo e jornalista Michel Mompontent, foi “assassinado pela indiferença”. De acordo com o relatado por Mompontent, Robert “morreu sozinho numa rua movimentada da capital [francesa] sem que ninguém parasse para o ajudar”, concluindo que “este fim de vida trágico e repugnante nos ensina algo sobre nós mesmos”. Afinal, a única pessoa a acudir o octogenário foi um sem-abrigo, que chamou os serviços de emergência pelas 6h30 da manhã.
O fotógrafo ainda foi transportado para o hospital, onde lhe foi diagnosticado um traumatismo craniano e uma grave hipotermia, causa do óbito.
René Robert (Freiburg, 1936) era um grande conhecedor de flamenco e retratou artistas como Paco de Lucía, Camarón de la Isla, Sara Baras, Vicente Amigo, Eva Yerbabuena, Marina Heredia e Estrella Morente. Ao longo de sua vida, expôs em muitas cidades, como Paris, Roma, Luxemburgo e Nimes.
O Instituto Cervantes de Paris, com o qual Robert trabalhou várias vezes, lamentou a notícia da sua morte, que foi recebida “com muita dor e tristeza”. “O fotógrafo desenvolveu um trabalho insubstituível de testemunho da arte flamenca do século XX. Movido pelo seu amor e a sua profunda compreensão da tradição hispânica, foi um fiel colaborador deste centro”, indicou o instituto, citado pela agência Efe.