Sem festa, João Ferreira foi ao Couço defender o aumento das pensões e o SNS
Dirigente comunista lembrou que foi a CDU que “fechou a porta à direita” que queria cortar pensões.
Maria Gracinda Nunes abeirou-se da porta do salão da Casa do Povo do Couço (agora sede da junta de freguesia) e torceu o nariz. “Não há uma bandeira, não há nada... Onde é que isto já se viu?”, soltou, num lamento. Impaciente, começou a rondar quem por ali conversava para saber onde ir buscar as bandeiras. Que isto de ter o partido sem festa nem parece do PCP. Não conseguiu levar a sua avante. O rapaz que trata disso estava lá à frente, junto ao palco, dizia, com a mão no ar em desalento.
Outra apoiante, que voltava para a rua por falta de cadeiras no salão - dispostas com a devida distância - comentava, encostada ao pilar da entrada, que se calhar era para não ter tanta gente a mexer nas mesmas bandeiras. Ou por respeito por Jerónimo estar a recuperar, acrescentava, encolhendo os ombros. Maria, como se identificou, acha “graça” a João Ferreira mas é “muito novo” e nem gosta de ouvir falar em substituição de Jerónimo de Sousa. “Está lá o homem tão bem. Deixe-o lá estar...”, responde, cortando a conversa sobre a sucessão que acabará por marcar esta campanha da CDU.
Nem bandeiras nem cozido nem frijoca. A alegria das idas ao Couço nas campanhas eleitorais da CDU desta vez foi trocada apenas por uma sessão com os discursos de António Filipe, o segundo deputado mais experiente da bancada do PCP, e de João Ferreira, que por ali tinha passado nas presidenciais do ano passado e nas europeias de 2019 e trouxe agora praticamente a mesma mensagem. Com a sala cheia de reformados, como o próprio salientou, foi nas pensões e reformas, no futuro da Segurança Social e nos serviços de saúde que concentrou a sua intervenção de quase meia hora.
Começou por lembrar que a CDU “foi a força decisiva para fechar a porta à direita”. “Foi preciso alguém da CDU [Jerónimo de Sousa] dizer: ‘atenção, eles não ganharam; eles perderam.’ Vimos aquilo que mais ninguém viu.” Acrescentou o conhecido argumento de que “se alguma coisa se avançou com impacto na vida das pessoas, foi pela mão da CDU”.
E avançou para as reformas, para justificar que é preciso aumentar salários para fazer crescer as reformas e pensões, e que é preciso aumentar pensões para não serem comidas pela inflação e os reformados não perderem poder de compra. O PS, esse, disse Ferreira, combinara com o Bloco aumentar apenas pelo cálculo da lei, o que deu, em 2016 entre uns cêntimos e uns euros. E foi a CDU que “obrigou” a aumentar 10 euros por ano a partir de 2017 e também a partir de Janeiro - contrariando o Governo que “achava que o ano, para os reformados, começava em Agosto”.
“São ainda pouco e é preciso mais”, insistiu: aumento de todas as pensões e não apenas das mais baixas e logo em Janeiro. “Mas esses 50 euros fizeram diferença e não existiram se não fosse a CDU. Recuperar o poder de compra é uma questão essencial”, vincou. “Quando alguns diziam que era o diabo que aí vinha... foi afinal o contrário: foi quando se aumentaram os salários que a economia arrebitou qualquer coisa. Nós conseguimos mostrar qual era o caminho.”
João Ferreira culpou ainda o PS por não haver aumentos de pensões neste Janeiro, realçando que “o PS podia fazê-lo mas não quis. Não foi por não haver orçamento. O PS resolveu transformar isto numa chantagem, numa arma eleitoral.”
Ainda sobre as pensões, o dirigente comunista defendeu a fixação da idade da reforma aos 65 anos ou aos 40 anos de carreira contributiva e o fim do factor de sustentabilidade que corta significativamente muitas pensões. João Ferreira procurou vincar a responsabilidade do partido no que exige: também quer as “contas certas” e por isso também tem medidas para aumentar e diversificar as fontes de receita da Segurança Social, como o aumento geral dos salários, a taxação dos lucros de empresas que conseguem maiores facturações com menos trabalhadores e recorrendo ao avanço tecnológico. Entre 2009 e 2015 as receitas da segurança social cresceram ao ritmo médio de 1% ao ano; entre 2016 e 2018 foi superior a 6%, citou.