Ilustrador português e Amnistia Internacional denunciam desigualdades na distribuição das vacinas
Em Dezembro de 2021, o português Daniel Garcia foi convidado pela Amnistia Internacional a desenhar uma ilustração para as redes sociais da organização com o lema “Partilhem a vacina. Coloquem as pessoas à frente do lucro”.
Esta ilustração portuguesa celebra o último dia da campanha #100DayCountdown da Amnistia Internacional, que pretende consciencializar o público sobre as disparidades na distribuição de vacinas contra a covid‐19 e apontar o dedo aos líderes mundiais e empresas farmacêuticas sob o lema “Share the vaccine. Put people before profit.” ("Partilhem a vacina. Coloquem as pessoas à frente do lucro”, numa tradução livre). A ilustração foi publicada no passado dia 30 de Dezembro no Facebook, Instagram e Twitter da Amnistia Internacional.
Ao P3, Daniel Garcia, o ilustrador responsável pela obra, confessa que “já era bastante fã do trabalho” da organização e tinha até já pensado “em contactá-los”. Contudo, mal queria acreditar quando recebeu o email da Amnistia Internacional, no início do mês de Dezembro. “Disseram-me que eram fãs do meu trabalho”, revela.
As obras do artista, que sempre estiveram ligadas às suas inquietações pessoais por questões de justiça, denunciam essencialmente desigualdades de poder, “não só no que concerne às vacinas, mas também em termos de classe, racismo, género": “No fundo, todos os temas que possam cair na dicotomia entre quem tem poder e quem não tem”, explica Daniel.
Indiferente à opinião de cada um sobre a toma da vacina, o ilustrador juntou-se à causa da Organização Mundial de Saúde pela distribuição justa de vacinas no mundo inteiro: “Depois de algum debate, decidimos colocar o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e um representante das farmacêuticas sentados gananciosamente numa pilha de frascos de vacinas”.
O objectivo? Denunciar a “recusa das entidades americanas e europeias de levantar a patente das vacinas, bem como o envio de pequenas quantidades de vacinas ou com pouco prazo de validade para os países ditos subdesenvolvidos, agravando as desigualdades já existentes”, conforme salienta o autor num comunicado enviado ao P3.
O ilustrador e cartoonista sempre se interessou “por temas sociais e políticos”, mas realça que, tal como os jornalistas, tenta abster-se de tendências partidárias no seu trabalho. Natural de Lisboa, há alguns anos que Daniel reside fora do país – já passou por Espanha e actualmente encontra-se na Polónia. Na sua carreira tem trabalhado com várias publicações internacionais como The Lancet, Newsweek, L’Express, Courrier International, Frankfurter Allgemeine Zeitung, Nikkei Asia, Politico e a National Geographic Magazine.
Ilustrador profissional desde 2014, já na escola era o rapaz que gostava de desenhar nas aulas. Sempre o fez e, à medida que o tempo foi passando, o gosto pela ilustração e pelo cartoon consolidou-se naturalmente. Aprecia especialmente o estilo realista, mas afirma que não conseguiria escolher um dos seus trabalhos para destacar: “O que mais gosto no meu trabalho é precisamente a variedade de opções que tem.”
Texto editado por Amanda Ribeiro