Como é que um puma atravessa a auto-estrada? O futuro destes felinos pode depender da resposta

O projecto Olympic Cougar, em Washington, poderá levar à instalação de corredores para a vida selvagem numa via rápida, para que pumas errantes consigam encontrar novos lugares para procriar.

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A equipa do projecto Olympic Cougar examina a puma Lilu Reuters/STEPHANIE KEITH

Cães a uivar detectaram o cheiro de um puma e guiam agora os investigadores para as profundezas da floresta, onde as montanhas íngremes estão cobertas de cedros e fetos polvilhados com neve.

Os cães perseguiram Lilu, uma puma de 37 quilogramas cuja coleira precisava de uma nova bateria, até uma árvore. Depois de ser atingida por um dardo tranquilizante, a felina cambaleante desceu a árvore e foi dormir. A equipa conseguiu mudar a coleira, examinar Lilu, e depois injectá-la com uma droga para a acordar.

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Lilu, uma puma selvagem, esconde-se numa árvore. Stephanie Keith

A operação faz parte de um dia de trabalho do projecto Olympic Cougar (que pode ser traduzido para Puma Olímpico), uma parceria entre uma coligação de povos indígenas americanos, um renomado especialista em pumas e o Departamento de Transportes de Washington.

O projecto poderá levar à instalação de corredores para a vida selvagem numa via rápida para que os pumas errantes, também conhecidos por “leões-da-montanha”, possam encontrar novos lugares para procriar, melhorando o ambiente em geral. A mesma espécie de felinos vagueia entre o Canadá e Tierra del Fuego.

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Sager-Fradkin prepara o dardo tranquilizante Stephanie Keith
Lilu é examinada por membros do projecto Olympic Cougar. Stephanie Keith
Um local de matança num antigo refúgio de pumas. Stephanie Keith
As montanhas na Península Olímpica Stephanie Keith
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“Sem qualquer dúvida, os leões-da-montanha contribuem para a saúde dos ecossistemas”, diz Mark Elbroch, um dos maiores especialistas mundiais em pumas que trabalha com o Panthera, um grupo de conservação de felinos selvagens que faz parte do projecto.

Quando um puma caça um mamífero grande, como um veado ou um alce, não consegue comer a carcaça inteira. Na Península Olímpica, o superpredador deixa para trás uma refeição para águias-douradas, águias-carecas, corvos e outras aves; mamíferos como os ursos, doninhas ou coiotes; e uma gama de invertebrados, incluindo todos os tipos de escaravelhos. Tal como os ursos, os pumas capturam salmão dos rios, ajudando a fertilizar as espécies vegetais na floresta.

Na Península Olímpica, as tribos Lower Elwha Klallam, Skokomish, Makah, Quinault, Jamestown S’Klallam e Port Gamble SKlallam estão a transmitir os seus conhecimentos ancestrais aos responsáveis pelo projecto que se juntam à perícia actual dos biólogos de vida selvagem.

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Kalisz verifica uma câmara escondida. Stephanie Keith
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Um puma apanhado pelas câmaras escondidas. Stephanie Keith

“Como indígenas, somos ensinados que temos de caminhar entre dois mundos: o do nosso sentido tradicional e o do sentido moderno”, diz Vanessa Castle, da tribo Lower Elwha Klallam, que trabalha para o projecto. “Penso que isto muda a forma como os cientistas pensam sobre estes animais.”

Os biólogos dizem que os grandes felinos da Península Olímpica têm uma diversidade genética inferior à do resto do estado de Washington, uma vez que estão cercados pela auto-estrada Interstate 5 e isolados dos parceiros naturais de reprodução nas montanhas de Cascade.

Descobrir onde construir um corredor para a vida selvagem, uma prática utilizada na conservação de habitats, envolve o rastreio dos pumas, equipando-os com coleiras GPS que fornecem uma grande quantidade de dados úteis. A Lilu é uma dos cerca de 60 pumas com coleira na península. Não há consenso sobre a população total destes animais esquivos e de grande porte. “A coleira dá-nos informações que simplesmente não poderíamos obter de outra forma”, diz Kim Sager-Fradkin, bióloga de fauna selvagem contratada pela tribo Lower Elwha Klallam.

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O trânsito na I-5 Stephanie Keith

Cerca de 100 mil carros passam diariamente pela I-5, impedindo pumas e outros animais selvagens de atravessarem para o outro lado da auto-estrada. “É provavelmente uma das piores barreiras para todas as espécies no estado”, contextualiza Glen Kalisz, biólogo do Departamento de Transportes do estado de Washington.

No Sul da Califórnia, as autoridades de trânsito estão prestes a abrir um corredor de vida selvagem na auto-estrada 101 dos EUA, utilizada por 350 mil carros por dia, numa das últimas áreas onde existe um habitat natural em ambos os lados da auto-estrada. Tal como no projecto de Washington, o objectivo é melhorar a diversidade genética dos pumas.

Tanto a passagem na Califórnia como o projecto na Washington I-5 estão a aprender com um dos maiores empreendimentos deste género, ao longo de um corredor da I-90, mais a norte de Washington, onde estão em vias de construir 26 corredores para vida selvagem ao longo de 14 quilómetros da auto-estrada.