Putin corrobora tese da “interferência externa” e Tokaiev denuncia “tentativa de golpe” no Cazaquistão
Presidentes russo e cazaque elogiam sucesso da intervenção militar da OTSC no país e comparam insurreição às “chamadas revoluções coloridas”. Orbán expressou o seu apoio ao líder do Cazaquistão.
Vladimir Putin e Kassim-Jomart Tokaiev afinaram pelo mesmo diapasão na hora de fazer um primeiro balanço à intervenção das forças de manutenção de paz da Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC) no Cazaquistão. Ainda que sem apontar directamente o dedo a qualquer país ou organização, os Presidentes russo e cazaque insistiram na tese de que os protestos e a violência verificados nos últimos dias no país da Ásia Central foram o resultado de uma “interferência externa” no território, promovida por “terroristas” e “criminosos”.
Numa reunião virtual realizada nesta segunda-feira, que juntou os líderes dos seis Estados que compõem a aliança militar, todos antigos membros da União Soviética (Rússia, Cazaquistão, Arménia, Bielorrússia, Quirguistão e Tajiquistão), Putin fez comparações entre aquilo que ocorreu em território cazaque e as “chamadas revoluções coloridas” noutros países da órbita de Moscovo – como a Ucrânia ou a Geórgia – e Tokaiev denunciou uma “tentativa de golpe de Estado”.
“Tornou-se claro que o principal objectivo [dos manifestantes] era comprometer a ordem constitucional e conquistar o poder. A conquista da cidade [Alma-Ata] iria abrir caminho para tomada do densamente populoso Sul e, depois, de todo o país”, afiançou Tokaiev, que se viu obrigado a afastar Nursultan Nazarbaiev, o primeiro chefe de Estado do país, para responder aos protestos que tiveram na sua origem a subida do preço do gás de petróleo liquefeito.
“Foram usados grupos de militantes claramente bem geridos e organizados (…) incluindo alguns que tiveram, obviamente, treino em campos de terroristas no estrangeiro”, acrescentou Putin, citado pela RT.
O chefe de Estado russo sublinhou a utilização de “tecnologias Maidan” no apoio e na partilha de informação entre os amotinados, numa referência ao movimento popular de protesto antigovernamental iniciado em 2013, em Kiev, que levou à queda do Governo de Viktor Ianukovich, precipitando a anexação russa da Crimeia e o início da guerra civil na Ucrânia, ainda em curso.
Putin insistiu perante os líderes da OTSC que “os eventos no Cazaquistão não foram a primeira tentativa – nem serão a última – de interferência” nos “nossos assuntos internos”, mas garantiu que a intervenção da aliança “demonstrou” que os seus membros “não vão permitir a desestabilização da situação na região” e que não vão deixar que aqueles que estão por trás dos protestos “levem a cabo as chamadas revoluções coloridas”.
Perante as críticas vindas particularmente do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, sobre os planos da Rússia para manter as tropas da OTSC no Cazaquistão indefinidamente, de forma a garantir a sobrevivência do regime, Putin e Tokaiev afiançaram que os mais de dois mil soldados e as cerca de 250 peças de material militar actualmente em solo cazaque vão ser retirados assim que as operações antiterrorismo, ainda em curso, terminem.
Apesar de não haver dados oficiais, segundo a imprensa russa morreram mais de 160 nos últimos dias no Cazaquistão, a grande maioria às mãos das forças de segurança, que receberam do Presidente Tokaiev luz verde para atirar a matar. Estima-se ainda que tenham sido detidas perto de seis mil pessoas.
O Governo do Cazaquistão foi criticado por vários dirigentes políticos e organizações de países Ocidentais, devido ao uso desmedido e repressivo da força, mas recebeu o apoio de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria.
“O primeiro-ministro falou hoje com o Presidente Tokaiev e expressou a sua solidariedade e as suas condolências por causa das muitas, muitas mortes. E oferecemos, claro, a nossa ajuda”, informou o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto, citado pela Reuters.
Depois de uma semana de motins e de violência, e ainda que altamente militarizada, Alma-Ata – a maior cidade do país – já estava a voltar, no domingo, a uma aparente normalidade, com as lojas a reabrirem aos poucos, os transportes públicos a retomaram os serviços, e a rede de Internet novamente ligada.