PS vs. PAN. São precisos “dois para dançar o tango”, e tivemos par
António Costa e Inês Sousa Real trocaram elogios e mantiveram pontes. Mas há ainda várias arestar por limar e mais exigentes do que as discutidas nas anteriores legislaturas
O diálogo foi sempre “construtivo” e tudo fizeram para que não houvesse chumbo do Orçamento do Estado para 2022 e uma “absurda” crise política. Foi em clara consonância que arrancou o debate entre o secretário-geral do PS, António Costa, e a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, este sábado na TVI.
O PAN não fez parte da “geringonça”, que o anterior porta-voz André Silva classificava de “muito interessante”, mas foi sempre um parceiro importante para o PS em momentos-chave. Votou a favor da moção de rejeição que deitou abaixo o Governo de Passos Coelho e Portas, em Novembro de 2015. Nas duas moções de censura ao Governo, em 2017 e em 2019, votou contra. Absteve-se no primeiro Orçamento do Estado apresentado por António Costa, mas nos três orçamentos seguintes negociou medidas com o PS e acabou a votar a favor. E não foram negociações difíceis porque muitas reivindicações do PAN não tinham grande impacto orçamental nas contas do ministro das Finanças. Na segunda legislatura de Costa, voltara à posição de abstenção nos orçamentos.
Mas passada a troca de elogios e disponibilidade (embora Costa tenha rejeitado a hipótese de formar governo com ministros do PAN por estar concentrado na aposta na maioria absoluta), percebe-se que há várias arestas por limar que têm, por exemplo, a ver com o rendimento básico incondicional, a transição energética ou a estratégia para o novo aeroporto de Lisboa. O PAN insistiu num projecto-piloto para um novo subsídio social, exigiu mais transparência nos contratos de exploração de lítio e no diálogo com as populações dessas regiões bem como a contemplação de Beja com uma das localizações possíveis para o novo aeroporto, para além de Montijo e Alcochete. Em alguns casos, Costa queixou-se de “exageros” por parte do PAN, mas também deixou a porta aberta para tranquilizar as preocupações ambientais do PAN. Quando Inês Sousa Real insistia na necessidade de uma “economia verde e responsável”, Costa nunca deixou de acenar com a cabeça em concordância.
Momentos de algum atrito: quando Costa revelou ter “dificuldade em compreender a equidistância” do PAN em relação ao PS e PSD (em entrevista ao PÚBLICO/Renascença, Inês Sousa Real admitiu negociar com os dois partidos, consoante seja o vencedor das eleições de 30 de Janeiro). O líder do PS lembrou à porta-voz do PAN que o PSD tem no seu programa eleitoral medidas como a liberalização da plantação de eucaliptos e a reversão da tutela dos animais de companhia para regressar à Direcção Geral de Agricultura e Veterinária. ”Temos um distanciamento completo obviamente dessas opções”, apressou-se a garantir Inês Sousa Real.
Na verdade, ao admitir dialogar com Rui Rio, o PAN pareceu estar apenas a tentar fazer-se vender mais caro ao PS, ou seja, pura táctica. O PAN gosta de dizer que não é de esquerda, nem de direita mas na primeira legislatura de António Costa votou muitas mais vezes ao lado do PCP e BE do que ao lado do PSD. Já aqui havíamos feito em 2019 a contabilização: 52% de concordância com o PSD, seguindo-se o CDS (55%) e depois o PS (60%). Os mais próximos são, sem dúvida, o BE (74%), PEV (72%) e PCP (68%), com quem até alinhou na tentativa de reposição do feriado no dia de Carnaval.
“Quando é preciso dar a mão para fazer retrocessos, o PS também não se inibe de dar a mão ao PSD”, retorquiria ainda a porta-voz do PAN.
Basicamente, como se costuma dizer, são “precisos dois para dançar o tango”. António Costa e Inês Sousa Real já estão a caminho da pista de dança. Falta só treinar melhor o ritmo.