Morreram os Bogdanoff, os gémeos mais famosos de França, que não estavam vacinados contra a covid-19

De origem nobre, Grichka e Igor Bogdanoff acreditavam que o estilo de vida saudável os iria proteger da doença. Morrreram a 28 de Dezembro e 3 de Janeiro, com seis dias de diferença.

Foto
Grichka e Igor Bogdanoff eram considerados os gémeos mais famosos de França Foc Kan/Getty Images

Grichka e Igor Bogdanoff eram considerados os gémeos mais famosos de França. Por cá podem não ser tão conhecidos, mas a dupla notabilizou-se, nos anos 1980, ao apresentar um programa de divulgação científica na televisão francesa num cenário de nave espacial. Morreram aos 72 anos com apenas seis dias de diferença, por complicações associadas à covid-19. Não estavam vacinados.

No final de 2021, os dois irmãos franceses estavam internados com covid-19. A 28 de Dezembro, morreu Grichka. Esta segunda-feira, 3 de Janeiro, Igor acabou por morrer também, confirmou o advogado e agente dos gémeos, Edouard de Lamaze, ao site de notícias France 24. A família de Igor partilhou um comunicado em que salienta que o apresentador “partiu em direcção à luz”, rodeado pela família e os amigos.

Os Bogdanoff não estavam vacinados contra o novo coronavírus. Os amigos dos artistas contam, em várias entrevistas, que os dois estavam convictos de que o estilo de vida saudável que levavam os iria proteger da doença. Ainda que os familiares não tenham especificado a causa da morte, Edouard de Lamaze, confirmou que ambos tinham contraído o vírus.

Ao canal de televisão francês BFMTV, citado pela BBC, o amigo de família Pierre-Jean Chalençon lamenta que tenham demorado tanto tempo a procurar tratamento, depois de terem tido teste positivo para a covid-19, pensando que o vírus se assemelharia a uma gripe. “As pessoas dizem que eles eram antivacinas, mas não eram. Muitos amigos disseram-lhes para se vacinarem, mas eles sentiam que, por não terem co-morbilidades associadas, não estavam em risco”, conta.

Outro amigo, o antigo ministro da Educação Luc Ferry, reforçou também ao Le Parisien, por ocasião da morte de Grichka Bogdanof que o amigo não era antivacinas, mas que “era antivacina para si próprio”, defendeu. Quando os dois tiveram testes positivos, Ferry recorda ter-lhes dito que tal era “caricato” e que os amigos ficaram “chateados”. França atravessa actualmente um pico de infecções por covid-19 — entre 22 de Dezembro de 4 de Janeiro contabilizaram-se 1.855.950 novos casos positivos. Por estes dias, foi mesmo detectada uma nova variante, designada “IHU”, naquele país.

A dupla de excêntricos descendia da aristocracia francesa. Em 1979, aos sábados à tarde, estreou-se o primeiro programa de Grichka e Igor Bogdanoff, intitulado “Temps X”. Durante anos, foram sinónimo de divulgação científica, associados à ciência popular e mantiveram-se na esfera mediática o resto da vida. O diário Le Monde descreve os irmãos como ícones da cultura kitsch e sublinha que o trabalho dos dois serviu para divulgar a tecnologia de ponta daquela década. Quando o canal TF1, onde era emitido o programa, foi privatizado em 1987, os gémeos foram dispensados.

Nos anos 90, o rosto de Grichka e Igor Bogdanoff mudou radicalmente, depois de várias intervenções estéticas, que os deixaram com queixo, lábios e bochechas deformados. “Estamos orgulhosos de ter rostos que se parecem com extraterrestres”, disseram certa vez em público. Grichka insistia na ideia de que ambos nunca tinham feito “aquilo a que as pessoas chamam cirurgia cosmética”, mas sim que experimentaram tecnologias de ponta e métodos naturais. Todavia, o amigo Luc Ferry confirmou que ambos eram submetidos, frequentemente, a injecções com botox.

Grichka e Igor Bogdanoff ainda se tentaram aventurar na vida académica, ao escrever teses de doutoramento em Física e Matemática, mas foram duramente criticados pela comunidade científica. A imprensa satírica francesa também os ridicularizava frequentemente e, em 2014, venceram um processo de difamação, para depois perder um processo contra o Centro Nacional Francês de Investigação Científica.

Antes de serem internados, os gémeos procuravam regressar à televisão. Tinham, inclusive, gravado um episódio-piloto de uma nova versão do antigo programa, também numa nave espacial. Planeavam vender o formato a um canal brevemente.

Sugerir correcção
Ler 44 comentários