A novidade é um enorme motor da paixão
Talvez seja sobre tudo isto o Natal e todos os rituais de Ano Novo: a promessa de que podemos eternamente nascer de novo!
Querida Mãe,
Estou a escrever com o Mini E. ao meu lado, inundada por aquela sensação de amor arrebatador que me parece impossível que alguém, alguma vez, tenha experimentado antes de mim, mas que, no fundo, sei ser igual ao que todas as mães sentem pelos seus filhos!
Estava aqui a pensar que talvez a razão pela qual este amor é tão apaixonado e forte seja porque estamos sempre a perdê-los. O Mini E., que hoje faz 4 anos, com esta forma de dizer “Pratícia” em vez de “Patrícia”, ou de se colar a mim como se fosse um coala, daqui a seis meses já não é assim. Ou seja, todos os dias nos apaixonamos por um Mini E. novo, um que já vai saber as letras, conseguir rir-se de piadas mais subtis e fazer companhia sem destruir todas as brincadeiras.
E, como toda a gente sabe, a novidade é um enorme motor da paixão! Mas quando é que deixamos de ver estas mudanças nos outros? No nosso marido, nos nossos pais, nos nossos amigos? Os adultos também estão sempre a mudar, ainda que seja uma mudança mais discreta e difícil de detectar do que ver desaparecer as pregas e refegos de um bebé de um ano.
E se estivéssemos mais atentos, se não presumíssemos que algures pelo caminho acabámos de crescer. Que ainda temos tantas oportunidades pela frente, que o melhor é aproveitarmos a fase em que estamos, porque não vai durar muito.
Os avós podem este ano só conseguir pensar nos netos, mas para o ano e libertos da pandemia podem redescobrir a vontade de correr mundo. E nós, os pais, estamos imersos no mundo da parentalidade, mas talvez daqui a uns anos estejamos a subir o Kilimanjaro! Talvez seja sobre tudo isto o Natal e todos os rituais de Ano Novo: a promessa de que podemos eternamente nascer de novo!
Querida Filha,
O Mini E. vai trazer-nos sempre essa certeza, porque nunca nos vamos esquecer da noite de Natal passada na maternidade, ele acabadinho de nascer no meio de nós, num berço de acrílico transparente que decorei com luzinhas roubadas à árvore, lembras-te?
Não é por acaso que é um Menino que está nas palhinhas deitado. Todos nós, independentemente do estado em que se encontre a nossa fé, somos capazes de perceber a força do que se passa no Presépio — esse amor apaixonado de uma mãe e de um pai pelo seu filho, que traz consigo a promessa de que é possível deixar para trás a pele que já não nos serve, transformando-nos em pessoas melhores; que estamos autorizados a recomeçar, iluminados pela estrela e encorajados pelo canto dos pastores e dos anjos.
No meio desta pandemia e num momento em que o mundo, às vezes, parece irremediavelmente virado do avesso vamos olhar com mais cuidado para as pessoas que temos ao lado, vendo-as com olhos de ver.
Feliz Natal, querida Ana.
No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.