Cortes no financiamento forçam agência da ONU a reduzir apoio alimentar ao Iémen
Programa Alimentar Mundial diz que oito milhões de iemenitas vão ser afectados por estas “medidas desesperadas” e pede aos doadores para repensarem os cortes, sob pena de agravarem ainda mais a situação de emergência alimentar no país.
O Programa Alimentar das Nações Unidas (PAM) anunciou esta quarta-feira que vai ser forçado, a partir de Janeiro do próximo ano, a reduzir a entrega de bens alimentares a cerca de oito milhões de pessoas no Iémen, por falta de financiamento.
A agência da organização mundial, que venceu o Prémio Nobel da Paz em 2020, alertou que os cortes levados a cabo pelos seus doadores vão deixar ainda mais pessoas em situação de emergência alimentar, num dos países do globo onde ela é mais premente.
No final de Outubro, várias agências humanitárias da ONU, incluindo o PAM, já tinham dado conta de que tinham sido apenas entregues 2,68 mil milhões de dólares em donativos, dos 3,85 mil milhões previstos.
“As provisões alimentares do PAM no Iémen estão a reduzir de forma perigosa”, lamentou Corinne Fleischer, directora regional da agência, num comunicado.
De acordo com o PAM, as famílias iemenitas afectadas pelo racionamento e por estas “medidas desesperadas” irão receber cerca de metade da habitual dose mínima diária de comida.
Para além disso, sublinha a agência, os cortes também podem afectar outros programas de assistência alimentar no país, particularmente aqueles que são dirigidos ao combate à subnutrição infantil.
“Cada vez que reduzimos a quantidade de comida [doada], sabemos que mais pessoas que enfrentam situações de fome e de insegurança alimentar vão juntar-se às fileiras dos milhões que já estão famintos”, lembrou Fleischer.
Os apoios alimentares do PAM abrangem 13 milhões de iemenitas por mês. Segundo a agência, as cerca de 5 milhões de pessoas em risco urgente de fome vão manter a dose diária de alimentos.
O Iémen vive uma dramática situação alimentar devido ao impacto económico e social da guerra, travada há quase oito anos entre o Governo internacionalmente reconhecido, que controla o Sul do país e que conta com o apoio da Arábia Saudita, e os rebeldes houthis, patrocinados pelo Irão, que dominam a região Norte.
De acordo com os dados recolhidos pelo think tank Council on Foreign Relations, há 24 milhões de pessoas a precisar de assistência imediata no Iémen, incluindo 4 milhões de deslocados. Números que podem vir a aumentar exponencialmente por causa dos efeitos da pandemia, dentro e fora do país.