Morreu Américo Soares, primeiro presidente do Instituto de Cinema de Moçambique
Jornalista e empresário tinha 69 anos. Foi colaborador regular do Festival de Cinema de Avanca.
Américo Soares, o primeiro presidente do Instituto Nacional de Cinema (INC) de Moçambique, morreu esta quarta-feira, aos 69 anos, em Avanca, no concelho de Estarreja, revelou o Cine-Clube de Avanca.
Logo após a independência de Moçambique, em 1976, durante a governação de Samora Machel (1933-1986), Américo Soares avançou com a criação de um instituto de cinema que, em Maputo, “reuniu um dos raros laboratórios de cinema em África”.
Aquele instituto, que controlava a exibição e a produção cinematográfica de todo o país, permitiu também a formação dos cineastas moçambicanos, organizando em Maputo acções de formação com realizadores como Jean-Luc Godard ou Ruy Guerra. “Apostados em transformar os guerrilheiros em operadores de câmara, foram estes novos técnicos que se espalharam por todo o país e permitiram filmar o mais icónico jornal de actualidades cinematográficas de todo o continente africano, o Kuxa Kanema”, refere o Cine-Clube de Avanca. Esses filmes de 20 a 30 minutos, com texto do escritor Luís Patraquim e direcção de Fernando Silva, tinham locução do próprio Américo Soares.
Kuxa Kanema, expressão que significa “o nascimento do cinema”, foi também título de um documentário realizado em 2003 por Margarida Cardoso – antes de adaptar o romance de Lídia Jorge A Costa dos Murmúrios (2004), também passado em Moçambique. Nele, a realizadora portuguesa traça uma história daquele jovem país africano libertado da dominação portuguesa através das suas imagens cinematográficas, registadas ao longo do tempo.
No ano 2000, o INC foi transformado em Instituto Nacional de Audiovisual e Cinema (INAC) de Moçambique, mantendo, no entanto, a missão primordial de arquivar e conservar os filmes realizados neste país africano.
Américo Soares estudou na Escola Comercial de Lourenço Marques, actual Maputo, tendo passado pelos jornais e por movimentos políticos, e embarcou entretanto para Portugal, realizando depois uma viagem pela Europa em triciclo motorizado até à Suécia, onde foi exilado político. Tornou-se empresário com actividade na área da fotografia e da distribuição de filmes e vídeos.
Colaborou, desde as primeiras edições, com o Festival Internacional de Cinema de Avanca.
O funeral realiza-se esta quinta-feira, às 15h, na Igreja Matriz de Avanca, no concelho de Estarreja e distrito de Aveiro.<_o3a_p>