Alameda Turquesa chega a Londres. Conheça outros dois projectos criados por mães e filhos
A Matilde foi fundada por Helena Marreiros, com as filhas Ana e Joana. Já Ana Rodrigues e os filhos Mariana e Rodrigo lançaram, recentemente, a Treze The Lab.
O nome Alameda Turquesa não é, certamente, desconhecido para os mais atentos ao sector da moda portuguesa. A marca nacional de calçado e acessórios, fundada por Carolina Santos com a mãe, Ana Domingues, há quase dez anos, tem conquistado o mundo e chegou agora aos armazéns de luxo Harrods, em Londres. Já a Matilda e a Treze são também projectos fundados por mães e filhos e aspiram ao mesmo sucesso.
A Alameda Turquesa nasceu em 2012 e, desde então, tem vindo a somar sucessos. Em 2017, lançaram uma colecção-cápsula com a influencer italiana Chiara Ferragni, mas, dois anos antes, a editora de moda Anna Dello Russo tinha destacado a marca na Vogue Japão. É, aliás, comum encontrar, nas redes sociais, celebridades de todo o mundo — como Sofia Vergara, Dua Lipa, Juliana Paes ou Bella Hadid — a calçar as icónicas sandálias de pompons da marca. Mais recentemente, foi a jovem poetisa Amanda Gorman a usar uma bandolete portuguesa, que fez sucesso nas redes sociais.
No ano passado, o projecto nacional foi também notícia, na revista Forbes, por criar o sapato ideal da pandemia — uns chinelos em 100% lã adornados com pérolas, cosidas à mão. Beyoncé, Kate Hudson, Katy Perry e Olivia Palermo são algumas das estrelas que se renderam às pantufas portuguesas ─ que agora podem ser compradas no Harrods, em Londres. O maior armazém de luxo do mundo vende, a partir deste mês, uma selecção de calçado da marca. Para já, encontram-se quatro versões dos chinelos em lã, por 395 libras (cerca de 410 euros).
A proposta, explica Carolina Santos, ao PÚBLICO, chegou por parte dos compradores da Harrods, para incluir a Alameda Turquesa na lista de designers seleccionados. No mês anterior, a marca tinha anunciado que estaria também à venda na cadeia britânica Selfridges. “É uma grande vitória para nós e para o nosso país, estarmos no Shoe Heaven do Harrods lado a lado com melhores marcas de calçado mundo”, salienta a empresária.
Matilda: jóias delicadas para todas as gerações
A Matilda também já soma quase dez anos de história. Há uma década, Helena Marreiros e as filhas Ana e Joana uniram a paixão pela joalharia à vontade de empreender e lançaram uma marca de jóias minimalistas. As primeiras peças foram feitas em casa pelas três com aptidão para os “trabalhos manuais”. Em conversa com o PÚBLICO, Helena, que trabalha na área da saúde mental infantil, recorda como as filhas iam com a avó à ourivesaria e ficavam “fascinadas” a experimentar jóias. Ana Marreiros partilha a mesma memória e relembra os “assaltos” ao guarda-jóias das mulheres da família.
Antes de fundarem a Matilda, Helena, Ana e Joana não encontravam jóias minimalistas, com qualidade. Decidiram aventurar-se a desenhar as primeiras peças. A manufactura, que inicialmente era feita em casa, passou depois, à medida que o negócio crescia, a ser feita em prata por pequenas empresas familiares especializadas. “Como não somos uma marca internacional, com uma grande equipa criativa, por exemplo, as peças que lançamos recentemente foram desenhadas há um ano e meio”, explica Ana Marreiros. A afirmação é a prova de que desenham peças intemporais, motivo pelo qual também não fazem saldos.
Na Matilde encontram-se anéis, brincos, colares e pulseiras “delicados e simples”. São tão delicados que foi difícil “encontrar quem queira produzir peças tão pequenas”, explicam. As três destacam os brincos Olivia (68€) feitos com duas ovais de prata com banho de ouro ou o anel Ophelia (56€). Este ano lançaram também a colecção The Anthophilia Edition, com brincos florais, desenhados por Ana Marreiros (também designer) a partir de flores naturais, a pensar nas festas.
Fazer brincos mais vistosos, como os Windflower (115€), é um desafio para mãe e filhas, dado o peso da prata, explicam ─ “há que encontrar um equilíbrio entre o peso e o tamanho”, para evitar que na peça seja um peso na orelha de quem a usa. “Às vezes andamos a batalhar por causa de meio grama, mas nos brincos faz muita diferença”, observa Ana Marreiros.
Por fazerem peças tão clássicas, acreditam conseguir agradar a todas as idades, de mães, a filhas e até avós ─ como é o caso das três fundadoras do projecto. Ambicionam que as jóias da Matilda consigam atravessar gerações e é por esse motivo que insistem nos cuidados a ter com as peças, um assunto que consideram ser “um tabu entre as marcas de jóias”. Ana Marreiros nota que “a manutenção das jóias depende muito do tratamento que lhes é dado, até do sítio onde a pessoa vive e do pH da pele”.
Helena Marreiros acrescenta que além de um cartão com os cuidados a ter, que acompanha todas as peças, a Matilda disponibiliza um serviço de banho de ouro. “São peças que simplesmente precisam de algum cuidado, de um banho ou uma limpeza e ficam como novas”, acredita. As três sublinham, nesse sentido, a sustentabilidade da joalharia, que por ter, frequentemente, um valor sentimental associado tende a ser menos descartada.
Treze: padrões desenhados pela filha com as memórias da mãe
Ana Rodrigues trabalha em marketing, o filho Rodrigo estuda a mesma área e a filha Mariana é apaixonada por desenhar. Aos 12 anos, inspirada pelas memórias da mãe e nos álbuns de família, começou a desenhar alguns padrões. Foi então que os três tiveram a ideia de criar uma marca de roupa, com base nesses “rabiscos”. Assim nasceu a Treze The Lab, há cerca de dois meses, baptizada pelo número da sorte da família.
Como é que uma criança de 12 anos desenha padrões inspirados nos anos 70 e 80 do século passado? A mãe, Ana Rodrigues, explica que muita gente ao entrar em casa da família diz que está num museu, onde “toda a envolvência é do antigamente”. Mariana cresceu, portanto, nesse ambiente e tem, aliás, fotografias antigas na parede do quarto. “Sempre gostei de ver coisas antigas e de observar os padrões das roupas”, conta a menina, ao PÚBLICO.
Ainda que inspirados pelo “antigamente”, os três não quiseram criar uma marca de roupa vintage ─ preferem chamar-lhe “nostálgica”. A primeira colecção Saudade partiu de aproveitamentos de desperdício de tecido, dando origem a peças limitadas, feitas em atelier, em Lisboa. Com destaque nos padrões desenhados por Mariana, as peças, entre os 62€ e os 95€, são de corte minimalista e intemporal, para que possam ser usadas durante muito tempo, sublinha Ana Rodrigues. “Sabemos que os padrões podem estar na moda hoje e amanhã não. Mas daqui a cinco, dez ou 15 anos, voltarão a estar”, acredita.
Para já, a linha é apenas de mulher, mas, em Janeiro, prometem aventurar-se na roupa masculina, ─ sempre com atenção à matéria-prima a usar, com foco na sustentabilidade. A ideia é que sejam tecidos com a maior durabilidade possível e, de preferência, excedentes de outras marcas. “Temos de fazer um esforço para que as coisas sejam mais duráveis, como no tempo dos nossos avós, porque, se continuarmos com o descartável, não há futuro”, destaca Rodrigo, com 21 anos.
Nesse sentido, oferecem, com cada peça comprada, um sabonete natural, para incentivar a lavagem à mão das peças mais delicadas, como as malhas. “Antigamente, as coisas tinham durabilidade. O meu avô ia ao alfaiate fazer os fatos dele e duravam-lhe a vida toda. O nosso objectivo é incutir o inverso da indústria da moda”, conclui Ana Rodrigues.