Ricardo Santos cresceu entre as vinhas por onde agora guia outros

Nasceu no Peso da Régua e, a crescer entre a vinha e o vinho, tornou-se guia de enoturismo na Quinta da Pacheca. “O turismo traz-nos o futuro”, defende, “mas temos de ser proactivos, dinâmicos, ir ao encontro das expectativas dos clientes”.

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Ricardo Santos Rui Oliveira

Como “tanta gente que nasce no Douro” (e ele nasceu no Peso da Régua), Ricardo Santos, de 40 anos, sempre teve “ligação à vinha e ao vinho”. É que, explica, “há 30 mil produtores, aqui no Douro, a maioria com menos de um hectare. É tudo muito retalhado”. No seu caso, eram os avós os produtores de vinho, “vendiam para as grandes marcas, para as adegas cooperativas”. Cresceu entre “vinhas, uvas e vindimas”, mas procurou “fora” outros caminhos — chegou a ter uma empresa na área de informática em Vila Real —, mas acabou por se render “à paixão” pelos vinhos. Regressado à Régua, entrou na Quinta da Pacheca, como guia de enoturismo, em 2013. “Já se recebia muito e não havia muitos recursos humanos na área. Eu era praticamente a única pessoa a fazê-lo. Agora somos oito, dez pessoas.”

A Quinta da Pacheca conta, com o à-vontade de quem o chegou a fazer “três, quatro vezes por dia”, foi uma das “pioneiras na produção DOC Douro, há 50 anos, quando começou a fazer as primeiras experiências de vinhos tranquilos”. Da mesma maneira, “foi das primeiras a investir no enoturismo”. Até 2019 foi sempre a crescer: em número de visitantes e em experiências de enoturismo. No contacto com os muitos turistas, aprendeu a distinguir vários perfis e a adaptar-se a eles: há, descreve, os “curiosos”, não muito conhecedores de vinho, que vêm ao Douro como a qualquer outro destino e o vinho é um complemento — querem conhecer a quinta, como querem experimentar um restaurante ou apenas desfrutar da beleza natural da região; depois há o conhecedor, que já viajou por outras regiões vinícolas, sabe mais ao que vem.

O discurso, adapta-se — “não vou cansar com questões técnicas quem não é apaixonado” —, mas há coisas transversais “a todas as quintas” e que são relevantes para transformar os curiosos em algo mais. “Normalmente, o mais importante é falar do terroir do Douro”, afirma, “e 80 por cento da nossa visita é feita nas vinhas”. “Vendemos a região e com ela o nosso produto”. São referidas as castas, sim, o microclima também; mas conta-se toda a epopeia que foi e é o cultivo da vinha no Douro: a história, o trabalho manual, a envolvência cultural e, “mesmo em termos económicos, os desafios actuais, por exemplo, da falta de mão-de-obra”.

Algo que, considera Ricardo, também afecta o turismo, “que precisa de gente jovem, dinâmica” — “e é difícil arranjar, mesmo de fora”. Embora na área do turismo, e na do enoturismo em particular, até seja uma mais-valia ser da região, avalia. “Já me disseram que um indício de que a visita está a correr bem é quando as pessoas nos perguntam a nossa história pessoal. Querem saber se temos ligação à região, perguntam-nos pela nossa família. As pessoas valorizam essa autenticidade”. E na Pacheca, continua, são quase todos gente local.

Contudo, diz Ricardo, o Douro “não é só enoturismo puro e duro”. E na Quinta da Pacheca recebem-se vários parceiros, tais como empresas de todo-o-terreno e empresas náuticas, que vão “para almoços e provas”. Têm aparecido pacotes turísticos, nota, por parte de hotéis e empresas de animação turística, que abrem o leque de experiências na região.

Os cruzeiros e as quintas continuam a ser a principal atracção da região, considera, e há dificuldade em mudar mentalidades. Na Régua, onde vive com a mulher e os três filhos, há a percepção generalizada, diz, de que o turismo são apenas os cruzeiros que ali param para deixar lixo. “O comércio local, tirando a restauração, não se adaptou”, e, embora haja “uma frente de rio enorme, não há nada excepto o museu e o comboio”.

“O turismo traz-nos o futuro”, defende, “mas temos de ser proactivos, dinâmicos, ir ao encontro das expectativas dos clientes”.

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