As terras de uma das tribos isoladas mais vulneráveis do mundo, os Piripkura, que vivem no estado brasileiro do Mato Grosso, estão a ser ilegalmente invadidas e destruídas para a produção de carne, denunciou esta terça-feira a Survival International.
A organização não-governamental divulgou fotografias de um sobrevoo na região onde vive esta etnia de indígenas isolados. As imagens revelaram uma fazenda ilegal e também expuseram a violação de uma Ordem de Protecção à Terra de seis meses emitida em Setembro pelas autoridades do Brasil, que proibiu a entrada de todos os forasteiros na Terra Indígena Piripkura.
Oficialmente, sabe-se que dois membros da tribo Piripkura vivem no território, embora se acredite que outros indígenas também o façam, tendo-se retirado para as profundezas da floresta depois de vários membros terem sido mortos em massacres.
Segundo a Survival International, as imagens da fazenda ilegal foram feitas num sobrevoo realizado no mês passado para a campanha “Não Contactados ou Destruídos”, organizada pela ONG em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazónia Brasileira (COIAB), o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Não Contactados e Recentemente Contactados (OPI), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e o Instituto Socioambiental (ISA).
A campanha acaba de divulgar um relatório chamado “Piripkura: um território indígena sendo destruído para a produção de carne” que mostrou que o desflorestamento para a pecuária agora alcançou uma área onde os Piripkura vivem.
“Estradas, cercas e até mesmo uma pista de aterragem foram construídas e centenas de bois foram trazidos para o local. A taxa de desflorestação no território explodiu em mais de 27.000% nos últimos dois anos”, destacou a ONG.
A OPI também divulgou um relatório sobre a invasão das terras indígenas, que revelou que os Piripkura são agora o território indígena não contactado mais desflorestado do Brasil, com mais de 12.000 hectares destruídos.
A única piripkura contactada, uma mulher conhecida como Rita, disse recentemente à Survival International que há estranhos a operarem ilegalmente dentro do território que estão a ameaçar o seu povo e contou que nove de seus familiares foram massacrados num ataque.
“Não poderia haver maior prova da impunidade total – na verdade, apoio activo – que os invasores de terras desfrutam no [Governo do] Presidente [do Brasil, Jair] Bolsonaro do que isto: operações de pecuária comercial num território indígena de vital importância que é supostamente protegido por lei”, denunciou Sarah Shenker, chefe da campanha Tribos Não Contactadas da Survival International.
“Os invasores estão a aproximar-se rapidamente dos indígenas isolados Piripkura. Eles [indígenas] estão resistindo com todas as suas forças e nós também devemos. Somente um grande clamor público pode impedir o genocídio dos Piripkura e de outras tribos isoladas”, concluiu.
O Brasil tem sido alvo de críticas devido à política ambiental adoptada pelo actual Governo, que defende a exploração comercial de terras na Amazónia, e tem falhado na protecção de reservas indígenas.
Entre Agosto de 2020 e Julho de 2021, a área destruída na Amazónia brasileira totalizou 13.235 quilómetros quadrados, de acordo com números oficiais divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).