John Wilson volta a dizer olá a Nova Iorque
A segunda temporada de How to with John Wilson, a original série documental cómica da HBO, chegou.
Há anos que John Wilson passa a vida a filmar tudo o que lhe aparece à frente e a reparar naquilo em que quase mais ninguém repara. Desde o ano passado que transforma os vídeos do seu dia-a-dia em Nova Iorque em How to with John Wilson, uma comédia semi-documental em que a voz do próprio encontra uma narrativa para momentos desconexos. Em cada episódio, ao início, Wilson - que nunca é visto a não ser através de superfícies que reflectem uma perna aqui ou um braço ali - explica que vai ensinar algo aos espectadores, na sua narração propositadamente tosca. Mesmo que não se aprenda muito sobre o tema declarado, há sempre piadas visuais e, não raras vezes, muita pungência e momentos de transcendência. Foi uma das melhores e mais originais estreias televisivas do ano passado. E continua a manter o nível e a ser especial como muito pouca outra televisão é.
Depois de uma primeira temporada que só apanhava a pandemia no final (de uma forma que ainda não foi igualada), esta segunda, que se estreou no último sábado na HBO Portugal, foi rodada toda neste contexto em que vivemos agora. Continua a haver as mesmas personagens e reviravoltas bizarras como na primeira época. As personagens podem ser pessoas filmadas no meio da rua a fazer algo estranho que complementa com piada algo que o criador diz na narração. Ou ser alguém com mais destaque. Wilson quer aprender mais sobre certos temas, no caso dos cinco episódios mostrados à imprensa, comprar casa ou vinho, estacionar em Nova Iorque, reciclar pilhas, lembrar sonhos e ser mais espontâneo, e para isso mete conversa com pessoas ou vai procurá-las. Vemos também laivos do passado de Wilson, dos tempos em que cantava em grupos a cappella (e ia a competições que tinham ligações inesperadas a cultos/esquemas em pirâmide), ia a programas do estilo Juiz Decide - ou fazia um filme do qual se envergonha bastante.
Continua a ser difícil perceber o que é realidade e o que é ficção, existindo num limbo em que também vivia Nathan Fielder, produtor executivo desta série, e o seu Nathan For You. Além de Wilson, estão creditados como argumentistas Michael Koman, outra figura importante dos bastidores de Nathan For You (e um grande nome da comédia, responsável, por exemplo, pela alavanca de Walker, o Ranger do Texas que Conan O'Brien tinha no seu talk show, bem como a subvalorizada série Eagleheart) ou Conner O'Malley, uma voz hilariante, estranha e subversiva que faz os seus próprios vídeos na rua como personagens bizarras. Mas há também um nome novo e altamente improvável: Susan Orlean, a conhecida escritora e jornalista da revista New Yorker (a sua colega Alice Gregory também escreve para a série) de quem Meryl Streep fez em Inadaptado, de Spike Jonze, um papel que em 2003 valeu à actriz uma nomeação para um Óscar.