Ventura perde um quarto do conselho nacional para a oposição interna

Grupo de independentes do Chega apresentou lista alternativa à que foi entregue por André Ventura para o conselho nacional, o órgão mais importante do partido entre congressos. Lista foi feita durante o próprio congresso de Viseu para forçar “um aumento das práticas democráticas no Chega”, disseram ao PÚBLICO militantes independentes.

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LUSA/NUNO ANDRÉ FERREIRA

André Ventura, presidente do Chega, não conseguiu eleger todos os 70 membros do próximo conselho nacional do partido, que terá um quarto de militantes da ala crítica, confirmaram ao PÚBLICO dois altos quadros do partido antes do anúncio oficial dos resultados.

Nas eleições para a estrutura dos próximos quatro anos, o órgão mais importante do partido entre congressos terá 53 membros efectivos da lista proposta pelo fundador e presidente (com uma votação de 71%) e 17 propostos por uma lista B (22,5%), criada durante o próprio congresso de Viseu. Nos suplentes, a lista de Ventura terá 15 elementos e a lista encabeçada por Mónica Lopes terá cinco.

Mónica Lopes, da distrital de Braga, disse ao PÚBLICO estar claramente satisfeita, sobretudo porque a sua lista ​​“​não teve publicidade, nem campanha prévia, e muitos militantes nem sabiam que nós nos estávamos a candidatar ao conselho nacional”. Outros militantes da ala ​​​​​​“independente” — também chamada ​​“alternativa” ou ​​“da oposição” —, disseram ao PÚBLICO que a intenção é “aumentar as práticas democráticas dentro do Chega”.

A lista inclui militantes de tendências variadas, entre os quais Rui Roque, militante do Chega cuja direcção nacional quis expulsar depois de ter apresentado uma moção para retirar os ovários às mulheres que fizessem um aborto. Na lista B, esse radicalismo é excepção, de acordo com vários militantes.

Na tomada de posse dos novos órgãos, João Tilly, que liderou a lista proposta por André Ventura, subiu ao palco para vincar que o facto de ter havido duas listas mostra que no partido “não há pensamento único”, mas sim “democracia”. Mónica Lopes, da lista independente, foi vaiada mal subiu ao palco, o que provocou contestação num grupo de apoiantes, tendo sido preciso a mesa pedir contenção à plateia. “A partir de agora não há conselheiros da lista A, B ou C. O conselho é um órgão nacional; vamos trabalhar todos no mesmo sentido, juntos e em união, e honrar sempre os compromissos que fundaram este partido”, disse a militante de Braga.

O conselho nacional é o órgão máximo do partido entre congressos e é representativo das múltiplas sensibilidades político-ideológicas e regionais. A eleição do conselho nacional é feita através do método de Hondt. Ao conselho nacional cabe aconselhar o presidente sobre a actuação e a estratégia política do partido, mas também aprovar o orçamento e as contas do partido, deliberar sobre coligações com outros partidos, aprovar os regulamentos eleitoral e disciplinar. Caberá também ao conselho nacional decidir quando é que os órgãos concelhios passarão a ser eleitos e não apenas nomeados pela estrutura distrital, tema aceso de debate interno.

No domingo, último dia do quarto congresso do Chega, os cerca de 500 delegados passaram a manhã a votar nos vários órgãos da futura estrutura do partido.

A direcção nacional foi eleita com 85,3% de votos a favor. A única alteração em relação à composição anterior é a inclusão do deputado açoriano José Pacheco. A restante estrutura é de “continuidade”, como Ventura descreveu no sábado: António Tânger Corrêa, Gabriel Mithá Ribeiro (que coordena o gabinete de estudos), Marta Trindade e Pedro Frazão.

O presidente do partido mantém como secretários-gerais Tiago Sousa Dias e Pedro Pinto. Assim como não mexeu na lista de vogais — Ricardo Regalla, Diogo Pacheco de Amorim (director nacional), Nuno Afonso (chefe de gabinete parlamentar), Rita Matias (coordenadora da juventude), Rui Paulo Sousa (coordenador da comissão de ética) e Patrícia Carvalho (assessora de imprensa).

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