Lukashenko encoraja migrantes a atravessar fronteiras da UE: “Trabalharemos para o vosso sonho”
Líder bielorrusso prometeu ajuda a quem quiser entrar na União Europeia, sublinhando que não obriga ninguém a voltar para o seu país. Ursula von der Leyen e o secretário-geral da NATO deslocam-se no domingo à Lituânia e Letónia.
O líder bielorrusso, Alexander Lukashenko, visitou esta sexta-feira um armazém que serve de abrigo a muitos migrantes, junto à zona fronteiriça de Bruzgi, perto da Polónia, e encorajou-os a atravessar a fronteira, prometendo-lhes comida e vestuário quente se decidissem ficar para tentar a travessia. Para os que não quisessem, disse-lhes que iria ajudá-los a regressar às suas casas, mas sem os obrigar a voltar para os seus países.
“Se quiserem ir para o Oeste, não vos iremos deter, sufocar ou agredir”, disse Lukashenko na sua primeira aparição pública desde o agravamento da crise fronteiriça, que se estende há mais de duas semanas.
“Fica ao vosso critério. Atravessem [a fronteira]. Não iremos deter-vos sob nenhuma circunstância, ou atar as vossas mãos e obrigar-vos a embarcar em aviões para vos mandar para casa, se não o quiserem”, continuou.
“A minha tarefa é ajudar-vos, porque estão em apuros”, disse Lukashenko. “Nós, os bielorrussos, incluindo eu mesmo, faremos tudo o que quiserem, mesmo se isso for mau para os polacos, letões ou quaisquer outras pessoas. Trabalharemos convosco para [alcançarem] o vosso sonho”, continuou.
Desde 8 de Novembro que milhares de migrantes estão concentrados nos limites da Bielorrússia, na esperança de entrar na União Europeia. Mas a presença das forças de segurança polacas, de um lado, e bielorrussas, do outro, obriga-os a ficarem retidos em acampamentos improvisados e sem condições.
E, tal como tem acontecido desde então, os migrantes e potenciais requerentes de asilo continuam a tentar atravessar a fronteira da Polónia: mais 200 migrantes tentaram pisar solo polaco, disse esta sexta-feira a porta-voz da guarda fronteiriça polaca, a tenente Anna Michalska.
Repatriar migrantes
Varsóvia e a UE acusam o regime de Minsk de criar esta crise ao utilizar estas pessoas como peões políticos em retaliação pelas sanções impostas pelo bloco europeu contra o regime bielorrusso, na sequência da repressão dos manifestantes que denunciaram como fraudulentas as eleições do ano passado. Minsk rejeita ser responsável pela crise e acusa a UE de provocar uma crise humanitária. Mas já admitiu que as suas tropas terão ajudado migrantes a passar a fronteira polaca.
Para pressionar Minsk e tentar aliviar a tensão vivida nas fronteiras, a UE já aprovou um novo pacote de sanções contra a Bielorrússia. Outra via para solucionar a situação é o repatriamento das pessoas encurraladas na fronteira, processo já iniciado: nesta sexta-feira mais de 170 pessoas voltaram para o Iraque e espera-se outro voo de repatriamento no final do dia. Na semana passada, 430 iraquianos voltaram ao seu país de origem depois de uma tentativa falhada de entrar na UE.
Contudo, Minsk afirma estar à espera de uma resposta do bloco europeu sobre a sua exigência para a Alemanha aceitar dois mil migrantes. Apesar das afirmações de Lukashenko sobre uma resposta afirmativa por parte de Berlim, o porta-voz do Governo alemão, Steffen Seibert, rejeitou esta sexta-feira ter sido feito um acordo. “Não é verdade que a Alemanha aceitou isto”, disse Seibert aos jornalistas.
Discutir a crise
Enquanto isso, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, irão viajar no domingo até à Lituânia e Letónia, outras duas frentes da crise nas fronteiras bielorrussas. Primeiro, vão aterrar em Vílnius para se reunirem com o Presidente lituano, Gitanas Nauseda. Depois, vão encontrar-se com o primeiro-ministro letão, Krisjanis Karins, em Riga.
As visitas vão realizar-se depois do anúncio da Comissão Europeia sobre a mobilização de 200 milhões de euros para ajudar a Polónia, a Lituânia e a Letónia a reforçarem o controlo das suas fronteiras com a Bielorrússia. Ainda assim, esclareceu Von der Leyen, este apoio não será destinado para a construção de “muros”, como pediram estes países.
E, na próxima semana, irão reunir-se os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países membros da NATO para discutir a situação no Leste da Europa – tanto a crise nas fronteiras da Bielorrússia, como a concentração militar russa na fronteira com a Ucrânia.