Terceiras eleições búlgaras este ano devem manter ingovernabilidade

Eleições em Abril e Julho não produziram maiorias nem entendimentos entre os partidos. Sondagens indicam que isso vai voltar a acontecer.

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Búlgaros vão pela terceira vez este ano às urnas STOYAN NENOV / Reuters

Pela terceira vez desde o início do ano, os búlgaros regressam este domingo às urnas de voto para tentar pôr fim a um ciclo de ingovernabilidade sem precedentes. No entanto, há poucos sinais de que as terceiras eleições legislativas em poucos meses, marcadas para o mesmo dia da primeira volta das presidenciais, venham a permitir maiorias estáveis para a formação de um novo Governo.

A Bulgária, o mais pobre Estado-membro da União Europeia, atravessa uma tempestade perfeita que combina a instabilidade política com o impacto profundo da pandemia. Com cerca de duas centenas de mortes diárias actualmente, é o segundo país com a taxa de mortalidade mais elevada do mundo por um milhão de habitantes, ao mesmo tempo que regista níveis muito baixos de vacinação.

Num ambiente de grande cepticismo em relação à vacina contra a covid-19, pouco mais de 20% da população recebeu a imunização total contra a doença, numa altura em que o período de Inverno deverá agravar ainda mais a situação epidemiológica. Entretanto, medidas como a adopção de comprovativos para vacinados que permitem a entrada em certos locais e eventos são recebidas com protestos violentos.

Sem um governo em funções e com o Presidente empenhado na reeleição, nenhum actor político parece desejar orientar o país para encontrar formas de sair da crise. “Quando o actual Governo interino percebeu no Verão que poderia haver novas eleições em Novembro, decidiu avançar muito cautelosamente para qualquer medida que pudesse dar origem a descontentamento”, disse à Euronews o jornalista do Dnevnik, Angel Petrov.

A sucessão de crises, aliada à descrença generalizada da população face à classe política, está a tornar o voto do eleitorado búlgaro quase exclusivamente em voto de protesto. “O principal factor que vai definir a participação dos eleitores será a crise social e sanitária em que nos encontramos”, explica ao Balkan Insight o membro da Associação de Jornalistas Europeus, Ivan Radev.

Porém, continua, é difícil definir quem corporiza esse voto de protesto. “Se o GERB [Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária, que estava no poder] e os seus aliados eram antes considerados o statu quo, e as pessoas votaram contra eles, agora eles estão a redefinir-se como uma oposição refrescada contra o Governo interino nomeado pelo Presidente”, diz.

As sondagens indicam que o GERB, de Boris Borisov, que foi primeiro-ministro entre 2009 até este ano, deverá voltar a ser o mais votado, mas muito distante de alcançar uma maioria absoluta. O partido conservador deverá melhorar ligeiramente o resultado obtido nas eleições anteriores, em Julho, quando teve 23%, mas ainda assim abaixo do que alcançou em Abril (26%).

O prolongamento do impasse político e da crise sanitária parece terem dissipado algum do descontentamento com o GERB, que foi o alvo de grandes manifestações no ano passado que estiveram perto de precipitar a queda do Governo de Borisov.

Atrás do GERB aparecem o “Vamos Continuar a Mudança”, um partido recém-criado por ex-ministros do governo interino com um programa baseado no combate à corrupção, e o Partido Socialista Búlgaro, ambos em torno dos 16%.

O desfecho das eleições presidenciais prevê-se mais definido. O actual chefe de Estado, Ruman Radev, um crítico do Governo do GERB, pode até conseguir a reeleição à primeira volta, derrotando facilmente o reitor da Universidade de Sofia, Anastas Gerdjikov, apoiado pelos conservadores.

O cenário legislativo antecipado pelas sondagens é idêntico ao que foi produzido pelas últimas eleições, em Julho – a principal diferença é a queda do Este Povo Existe, outro partido anticorrupção, que foi o mais votado mas que agora deverá ser penalizado pelo falhanço na formação de Governo.

Mantendo-se o quadro, é provável que a Bulgária continue sem um executivo durante mais tempo. A única boa notícia é que parece que os búlgaros estão a acostumar-se à ausência de um Governo – uma sondagem de Julho indicava que o governo interino tem uma aprovação de 60%.

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