Uma bibliotecária na ilha de Java, na Indonésia, teve uma ideia e juntou o útil ao agradável, que não só ajuda o meio ambiente, como incute entre os mais novos hábitos de leitura. Como? Sempre que eles recolhem lixo, ela empresta-lhes livros.
Todos os dias, durante a semana, Raden Roro Hendarti vai no seu triciclo, com a bagageira cheia de livros, para entregar às crianças na vila de Muntang, em troca de copos de plástico, sacos ou outro tipo de lixo.
O seu objectivo é promover junto dos mais pequenos a paixão pela leitura, ao mesmo tempo que os alerta para a crise climática. Assim que Raden Roro Hendarti aparece, as crianças, muitas acompanhadas pelas mães, aproximam-se da “livraria do lixo” e gritam pelos livros.
Todos levam consigo sacos de plástico repletos de resíduos, de forma que a caixa da motorizada de Raden rapidamente se enche de descartáveis e se esvazia de livros. Para a bibliotecária é uma grande satisfação saber que, graças a esta ideia, os miúdos vão passar menos tempo a jogar online.
“Temos de construir uma cultura de literacia desde tenra idade se quisermos mitigar os perigos que o mundo online tem”, diz Raden. “E devíamos ter mais cuidado com aquilo que desperdiçamos de forma a combater as alterações climáticas e salvar o planeta de toda produção de lixo”, acrescenta.
A cada semana, a mulher consegue recolher até 100 quilos de resíduos, que depois são divididos e reciclados devidamente por ela e pelos seus colegas, vendendo ainda aquilo que se consegue aproveitar. Por outro lado, tem um stock de 6000 livros para emprestar e já pensa em levar o seu triciclo a outros bairros.
Kevin Alamsyah, 11 anos, é um dos leitores que apanha lixo na sua vila. “Se houver demasiado lixo, o nosso ambiente torna-se sujo e isso não é saudável. É por essa razão que também ajudo na recolha para conseguir receber um livro”, conta.
Jiah Palupi, responsável pela principal biblioteca pública da área, refere que o trabalho de Raden tem contribuído para o aumento dos hábitos de leitura e reduzir o tempo passado em videojogos, que é sobretudo predominante entre as camadas mais novas.
Apesar de, na Indonésia, a taxa de literacia acima dos 15 anos rondar os 95%, um estudo do Banco Mundial, de Setembro, alertou que a pandemia contribuirá para que mais de 80% dos jovens da mesma idade fiquem abaixo do nível mínimo de proficiência em leitura, tal como é identificada pela OCDE.