Falta a água numa ilha asiática e torna-se difícil comprar um carro em Portugal – é a versão tecnológica e pós-pandémica do famoso efeito borboleta.

Taiwan – que funciona como uma democracia independente, mas que Pequim reivindica como parte integrante do território chinês – é o maior produtor mundial de chips, os pequenos componentes que equipam todo o tipo de bens de consumo, de torradeiras a automóveis. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Co, mais conhecida pela sigla TSMC, fornece chips para empresas como a Intel, AMD, Qualcomm e Nvidia.

Em Abril, Taiwan enfrentou a pior seca na ilha em mais de meio século. Ora, água (em concreto, água numa versão ultra-purificada) é um elemento essencial no fabrico de chips. Taiwan limitou o consumo de água em algumas cidades, aspergiu nuvens com químicos para provocar chuva, dessalinizou água do mar, e limitou a irrigação de campos de arroz para manter a produção de chips em andamento

 
           
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          JAK: Desafiar as leis do mercado

Fazer ténis em Portugal não foi uma ideia óbvia. Mas José Maria e Isabel aceitaram o desafio de fazer um produto de qualidade e desafiar as leis do retalho que há muito não eram postas em causa. Aos poucos, a JAK conquista também o mundo.

         
           
 

Tal como a imagem da borboleta a bater as asas é uma versão apelativa, mas muito simplificada, da teoria do caos, também a crise dos chips não se explica só com a seca taiwanesa.

As políticas comerciais de Donald Trump foram um dos factores a contribuir para o actual estado de coisas. A guerra comercial do ex-presidente americano com a China causou disrupções nas cadeias de abastecimento e tornou mais caro para empresas americanas comprarem chips chineses. 

A China, por seu lado, tem investido muito no fabrico de chips, com o objectivo de se tornar auto-suficiente. É um plano que não está a correr bem. A meta para este ano era fabricar internamente 40% das suas necessidades de chips (e 70% em 2025), mas a produção não conseguiu ir além dos 16%, um avanço modesto face aos anos anteriores.

E houve, claro, a pandemia. Os confinamentos (e o aumento de poupanças) levaram a um crescimento da procura: portáteis para o teletrabalho; consolas e televisões para o entretenimento doméstico; electrodomésticos novos.

A pandemia também levou as pessoas a comprarem menos carros, o que fez com que os fabricantes reduzissem o stock e as encomendas de chips. Quando a procura por automóveis acelerou – resultado do receio de andar em transportes públicos ou de trabalhadores que se decidiram mudar para fora das cidades – os fabricantes foram apanhados desprevenidos.

Algumas respostas das marcas são, no mínimo, dúbias: a BMW decidiu retirar os ecrãs sensíveis ao toque de alguns modelos, substituindo-os por um comparativamente antiquado joystick. Os clientes têm um crédito de 500 euros, mas não poderão no futuro integrar um ecrã nos carros. Quem vai desembolsar o preço de um carro novo para estar daqui a cinco anos ou dez anos ainda a usar o GPS com um joystick?

O impacto na indústria automóvel é grande e as quebras na produção automóvel tendem a ter impactos fortes na economia. Em Portugal, a falta de chips já custou quase 20% da produção de automóveis. A indústria alemã também se está a ressentir

Nos meses recentes, a chuva voltou a Taiwan e a escassez de água deu lugar a cheias. Mas a seca, notam alguns especialistas, pode não ter sido um fenómeno isolado. A temperatura da ilha tem subido ao dobro do ritmo médio do planeta. Entre 1957 e 2006, o Verão ganhou quase um mês e o Inverno tornou-se um mês mais curto.

Decorre por estes dias a Cimeira do Clima de Glasgow, apontada como um último momento para acções decisivas sobre as alterações climáticas, mas da qual alguns líderes (entre os quais António Costa) optaram por estar ausentes. Aguardamos os resultados.

De regresso Depois do interregno pandémico, a Web Summit voltou ao formato presencial, embora com menos pessoas e marcada pelo tema Facebook.

O evento serviu também para formalizar o lançamento da Aliança das Nações Europeias para as Startups, uma entidade europeia para promoção do empreendedorismo, que terá sede em Lisboa.

Por fim, a portuguesa Smartex venceu o concurso de startups. Tem um sistema para reduzir o desperdício na indústria têxtil, recorrendo a um sistema de câmaras, luzes e algoritmos que vigiam o processo de fabrico à procura de defeitos.

Digno de nota

- Meta ao metaverso: qual é o plano do Facebook? Este artigo da Karla Pequenino explora o que há por trás de um novo nome e em que medida podem os desaires do Facebook pesar nos futuros projectos da empresa.

- Sempre original, Elon Musk perguntou ao Twitter se deveria vender 10% das acções que tem da Tesla, já que a cotação estava em valores recorde. A resposta foi "sim". Mas, como este artigo da CNBC explica, Musk iria provavelmente vender de qualquer forma. As acções abriram em queda nesta segunda-feira.

- O tempo de ecrã das crianças até aos seis anos devia ser zero, argumenta o neurocientista francês Michel Desmurget, autor do livro A Fábrica de Cretinos Digitais. "É uma orgia. Sete horas diárias! É uma loucura porque sabemos que estão concentrados em coisas que fazem mal ao seu desenvolvimento e à saúde", defendeu, em entrevista a Bárbara Wong.

4.0 é uma newsletter sobre inovação, tecnologia e o futuro. Comentários e sugestões podem ser enviados para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.