Sombra de Epstein vai dificultar selecção do júri para o julgamento da socialite Ghislaine Maxwell
Dois anos depois de Jeffrey Epstein ter sido encontrado morto na prisão, a atenção mediática à volta do empresário ainda continua bastante viva e agora dificulta a complexa função de encontrar um júri imparcial para o julgamento da sua ex-namorada Ghislaine Maxwell.
Todos aqueles que possivelmente vão ser jurados no julgamento da socialite britânica Ghislaine Maxwell começam nesta quinta-feira a preencher um questionário de 24 páginas no Tribunal Federal de Manhattan, Nova Iorque, EUA, para garantir que podem, de forma justa e imparcial, escrutinar a arguida, que a acusação norte-americana diz estar envolvida nos abusos sexuais realizados pelo empresário Jeffrey Epstein a menores de idade.
Epstein, um financeiro de sucesso e que chegou a cruzar-se com o príncipe André ou com o multimilionário Leon Black, foi encontrado morto na sua cela da prisão, em 2019, depois de ter sido acusado de tráfico sexual.
Os advogados de Maxwelll afirmam que a “intensa e negativa cobertura mediática” sobre o caso que envolve a arguida e o já morto empresário, incluindo todos os podcasts e documentários até agora divulgados em plataformas como a Netflix, influenciaram desde logo a selecção do júri para o futuro julgamento da socialite, que está previsto começar a 29 de Novembro.
“O passado de Epstein terá um peso tão grande neste julgamento e há tantas noções preconcebidas em relação a este caso que será difícil, para a defesa, arranjar pessoas que se apresentem como uma folha em branco sobre este tema”, argumenta Roy Futterman, o director da empresa de consultoria de julgamentos de Nova Iorque.
A acusação aponta o dedo a Maxwell, de 59 anos, como responsável por contactar e aliciar quatro raparigas menores de idade para encontros onde foram abusadas sexualmente por Epstein, de 1999 a 2004. Por sua vez, a britânica, que já alegou a sua inocência, é a mulher com maior destaque a ser julgada por abusos sexuais desde o início do movimento #MeToo. Para os advogados, esta situação atrai ainda mais interesse e curiosidade. “O facto de ser agora uma mulher a ser julgada por acusações quase sempre direccionadas a homens aumenta a atenção mediática que a envolve”, defendem num comunicado enviado à imprensa.
No questionário, que será preenchido por quase 600 possíveis jurados, é-lhes perguntado sobre o que leram ou ouviram sobre Epstein e Maxwell, bem como sobre as suas próprias experiências e opiniões relacionadas com agressões ou abusos sexuais. Alguns dos seleccionados serão posteriormente chamados para serem entrevistados por Alison Nathan, juíza da comarca de Nova Iorque. A ideia é ajudar os advogados a excluir todos aqueles que já têm uma opinião formada sobre o caso.
E, apesar de muitos dos jurados poderem já conhecer o caso, consideram-se menos preconceituosos aqueles que se informaram sobretudo a partir de fontes noticiosas do que pelas redes sociais, explica Christina Marinakis, directora de investigação no Litigation Insights em Baltimore.
O mesmo formulário também questiona se alguma vez os candidatos discutiram o tema nas redes sociais e Marinakis garante que tanto o lado da acusação como o da defesa vão verificar a actividade online dos futuros jurados.
O dilema dos advogados de Maxwell é que os jurados que conheçam o caso possam responsabilizar ainda mais a acusada por, enquanto mulher, ter manipulado outras vítimas do sexo feminino, aponta Melissa Gomez, presidente de uma empresa de consultoria de júris em Filadélfia. “A questão já não vai ser só sobre se ela participou ou não nos actos, mas se falhou em proteger estas mulheres”, argumenta.
Segundo Paul Applebaum, advogado criminal do Minnesota, a defesa vai tentar ainda dar prioridade a homens que olhem para as raparigas envolvidas nos actos sexuais como sabendo o que estavam a fazer e não como vítimas. “Eles querem homens das cavernas entre os jurados”, refere.