Facebook é destaque na Web Summit. Legisladores têm de “proteger os cidadãos”, diz Cosgrave
O Facebook (agora, Meta) vai ser alvo de escrutínio redobrado na Web Summit, com várias palestras dedicadas ao futuro da tecnológica de Mark Zuckerberg. O PÚBLICO falou com o presidente executivo da feira, Paddy Cosgrave, sobre a escolha do tema.
As empresas de Mark Zuckerberg (agora, parte do grupo Meta) vão ser alvo de escrutínio durante os quatro dias da Web Summit em Lisboa, com várias sessões dedicadas aos problemas do Instagram, WhatsApp e Facebook. Os palcos da feira juntam Frances Haugen, uma antiga gestora do Facebook que tem denunciado falhas na gestão da empresa, o magnata Roger Mcnamee, um dos mentores de Mark Zuckerberg que veio a tornar-se num dos seus maiores críticos, e o responsável de assuntos globais do grupo Meta, Nick Clegg.
Em conversa com o PÚBLICO, Paddy Cosgrave fala da atenção dada ao Facebook na Web Summit. A conversa decorreu antes da mudança do nome oficial da empresa.
Este ano haverá várias sessões dedicadas ao Facebook no palco principal. É um dos grandes temas. Porquê o foco?
As denúncias de Haugen continuam a ser a maior história de tecnologia do mês. É fascinante ouvir aquilo que Haugen tem a dizer e a forma como o Facebook está a reagir ao tema. As revelações parecem confirmar muitos dos alertas que têm sido feitos por jornalistas nos últimos anos e que levantam perguntas sérias sobre a necessidade de regular grandes plataformas de conteúdo como o Facebook.
No seu caso, usa Instagram e Facebook. Como vê a tecnologia?
As empresas não são só heroínas ou vilãs. As empresas existem essencialmente para maximizar o retorno do investimento dos accionistas. Se as empresas avançam para áreas em que estão a prejudicar o bem comum, é dever dos legisladores e reguladores protegerem os cidadãos. A indústria automóvel é um exemplo perfeito. Há regras de segurança que as empresas têm de respeitar. Foram as fabricantes que criaram regras sobre cintos de segurança e airbags? Não. Foram introduzidas por reguladores.
Os problemas das redes sociais resolvem-se com regulação?
Os reguladores têm de perceber, a nível global e a nível nacional, quais são as melhores leis para mitigar os problemas das plataformas sem impedir que as pessoas obtenham os benefícios das redes sociais. As redes sociais são incrivelmente poderosas e podem ser extremamente benéficas. Da mesma forma que os automóveis são incrivelmente benéficos. É verdade que os carros matam muitas pessoas, mas decidimos que podemos viver com carros porque são acima de tudo uma plataforma de tecnologia com benefícios. Acredito que é o mesmo com as redes sociais. Só temos que descobrir um caminho que equilibre o bem público com o interesse privado das empresas. Já foi feito na indústria automóvel.
A identidade da Frances Haugen só se tornou pública em Setembro. Foi uma convidada de última hora?
A Whistleblower Aid [organização sem fins lucrativos que representa pessoas que relatam potenciais ilegalidades por parte de empresas ou governos], que aconselha a Frances, falou na Web Summit em 2019. Quando abriram operações na Irlanda, eu ajudei a financiar a primeira operação internacional — dentro de semanas tinham provas de criminalidade do então primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar. Mantive o contacto com a organização; há uns meses, durante o Verão, avisaram-me de que poderia haver algo interessante no horizonte. Foi fortuito.
Foi noticiado que a Web Summit não consegue publicar anúncios no Facebook com a Frances Haugen. O Facebook desmente com exemplos de anúncios sobre Frances Haugen no site deles. O que aconteceu?
O Facebook não autoriza a criação de anúncios sobre o Facebook e isso está na política deles. Não podíamos criar publicidade sobre a denunciante do Facebook porque esse anúncio nunca seria permitido. Podem ser criados sobre a Frances Haugen, mas não podemos criar anúncios utilizando a marca do Facebook: por exemplo, “a denunciante do Facebook”. São as regras.