Com CDS a ferro e fogo, afinal quem está de saída?
Somam-se as saídas do partido numa altura em que o CDS está em guerra aberta. Pires de Lima juntou-se a Mesquita Nunes numa vaga de desfiliações que inclui também Michael Seufert ou Inês Teotónio Pereira. A bancada não fica incólume com a saída de João Almeida.
Horas depois da polémica reunião do conselho nacional que se prolongou pela madrugada, o CDS acordou na manhã deste sábado com o anúncio de desfiliação de Adolfo Mesquita Nunes. À saída do antigo secretário de Estado do Turismo e ex-dirigente seguiram-se outros anúncios de desfiliação por parte de nomes relevantes do partido, com o histórico António Pires de Lima à cabeça. São pelo menos sete as saídas de militantes com peso no CDS.
Directa ou indirectamente relacionadas, estas saídas surgem num clima de guerra aberta no CDS, agravada pela desconvocação do congresso electivo previsto para 27 e 28 de Novembro e que decidida num conselho nacional extraordinário cuja convocatória havia sido impugnada horas antes pelo tribunal do partido, dando razão ao pedido feito pelo candidato à liderança, Nuno Melo.
Mesquita Nunes recorreu ao Facebook para, “em nome da liberdade”, anunciar a desfiliação: “O partido em que me filiei deixou de existir”.
Tão ou mais traumático para o CDS foi o anúncio feito já na noite de sábado pelo antigo número dois de Paulo Portas e ex-ministro da Economia, Pires de Lima. Em entrevista à SIC-Notícias, o gestor defendeu que o partido “bateu no fundo”, razão pela qual atingira o “fim de linha” no CDS.
“Não estou em condições de recomendar a ninguém o voto no líder, não tenho intenção de votar nele. Voto no CDS desde os 18 anos e pela primeira vez quero chegar às legislativas com a liberdade de votar em quem entender no espaço da direita democrática”, acrescentou Pires de Lima.
Mas as duas figuras centristas não saem sozinhas. Entre os dois anúncios, também Michael Seufert, ex-líder da Juventude Popular e que foi mandatário da candidatura presidencial de Tiago Mayan Gonçalves (IL), bateu com a porta: “O CDS ontem acabou”, atirou numa alusão à forma como decorreu o conselho nacional da véspera, acrescentando que o partido “morreu”.
Manuel Castelo-Branco, ex-deputado e antigo dirigente, Inês Teotónio Pereira, ex-deputada, o antigo dirigente João Maria Condeixa e a ex-parlamentar Vânia Dias da Silva também anunciaram a passagem pela porta de saída.
Nas mensagens em que anunciaram as respectivas decisões, todos justificaram a desfiliação com o rumo do partido, com críticas, mais ou menos explícitas, à direcção chefiada por Francisco Rodrigues dos Santos.
“Assumo a minha orfandade ao projecto e apresentarei o meu pedido de desfiliação”, revelou Manuel Castelo-Branco. João Condeixa considerou que “a resposta ao país já não está no CDS, que vive em reacção e se alimenta de matéria em decomposição” e Vânia Dias da Silva lamentou que o partido tenha “chegado até aqui”.
Já Teotónio Pereira disse que “o CDS não é o mesmo partido que sempre foi” e defendeu que “todos aqueles que votaram nesta direcção deviam hoje pedir desculpa aos militantes do CDS e aos seus apoiantes pela humilhação a que sujeitaram o partido”.
Também com críticas à actuação do partido e à incapacidade de se afirmar como um “instrumento relevante e autónomo”, o advogado, comentador e ex-dirigente Francisco Mendes da Silva já tinha saído em Junho deste ano.
Ainda a tentar assegurar a realização do congresso electivo em finais de Novembro, o eurodeputado e candidato à liderança, Nuno Melo, anunciou este sábado que tentará impugnar as decisões saídas do último conselho nacional e, ao contrário de outros militantes, garantiu que "não abandona” o CDS.
João Almeida também sai, mas da bancada
A debandada também atingiu a bancada parlamentar centrista. O deputado e candidato derrotado nas últimas eleições internas, João Almeida, anunciou que renuncia ao seu mandato no Parlamento, uma decisão que produzirá efeitos uma vez consumada a dissolução da Assembleia da República.
João Almeida assegurou que esta decisão já estava tomada e que nada teve a ver com o conselho nacional da noite de sexta-feira. “Infelizmente, o actual CDS não tem nada a ver com o que me trouxe à política. Falta ética, falta carácter e falta substância”, concluiu o deputado numa mensagem escrita no Facebook.
O grupo parlamentar do CDS perde assim mais um nome depois de, em Setembro, também Ana Rita Bessa ter abandonado a bancada centrista, saída a que se seguiu um difícil processo de substituição devido à recusa dos nomes seguintes eleitos na lista por Lisboa.
Tanto João Almeida como Ana Rita Bessa continuam no partido.