A Turma da Mónica vai receber um novo personagem. E vai ser gay
O criador das famosas histórias de quadradinhos, Mauricio de Sousa, diz que o perfil do novo personagem está em estudo.
Uma Mónica, que personifica uma menina cheia de força, que resolve tudo “à coelhada”, mas que no fundo, no fundo é um poço de sensibilidade; um Cebolinha, bonzinho e medroso, mas atrevido (e sempre a magicar planos para capturar o Sansão de pelúcia da Mónica), além de impaciente e teimoso, que troca os “r” por “l”; um Cascão, que foge de água como o “diabo da cruz” (enquanto quase todos têm vontade de fugir dele, tal o cheiro…); uma Magali, com o coração tão grande como o estômago (ou será o contrário?), mas que, por mais que coma, não engorda (e que foi inspirada na filha do autor).
Enfim: um grupo muito ecléctico, ao qual um rol enorme de personagens atípicas se foi juntando ao longo dos anos, e que revela que quando Mauricio de Sousa criou a Turma da Mónica, há mais de 50 anos, tratou de retratar muitos meninos e meninas, diferenças incluídas. “Chegou um dia em que me dei conta que fazia histórias baseadas na minha infância, e na minha infância havia diversos garotos, moleques que jogavam à bola comigo e que tinham algum tipo de deficiência. A gente brincava e brigava do mesmo jeito”, recorda numa entrevista à BBC News Brasil.
Além de personagens com distintas deficiências, Mauricio de Sousa começou a integrar minorias. E o caso de maior sucesso foi de Milena, uma criança negra, que surgiu nas histórias em 2019 e que já é uma das maiores estrelas. “Está todo mundo apaixonado pela Milena”, reflecte o desenhador.
Agora, considera que é tempo de criar um personagem gay, que também servirá como espelho para alguns dos seus leitores.
Na mesma conversa, realizada a propósito do lançamento do livro Sou Um Rio, um manifesto em defesa do meio ambiente em vésperas da COP-26, que arranca no domingo, em Glasgow, no Reino Unido, o desenhador contou que o debate para a criação do personagem gay tem vindo a acontecer entre si e os argumentistas, estando a equipa a aguardar pelo momento certo. Afinal, defende o cartoonista, “não há limite” na criação de personagens. “Depende de coragem, tempo, vontade e foco.”
Na origem desta vontade de Mauricio de Sousa, que completou 86 anos esta semana, está o facto de o filho, Mauro, ter passado por um processo até assumir a sua homossexualidade. No entanto, o criador, recorda emocionado, que quando Mauro revelou a sua orientação sexual a notícia foi recebida de forma natural: “Foi uma experiência muito interessante e agradável, porque é a porta da vida e da felicidade.”