Responsável israelita convencido que EUA não reabrirá consulado palestiniano em Jerusalém

Número dois do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel disse que Washington não deverá ir em frente com o plano, que poderia trazer dificuldades ao Governo de Naftali Bennett.

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O consulado acabou integrado na embaixada dos EUA em Jerusalém, inaugurada em 2018 RONEN ZVULUN/Reuters
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Responsáveis israelitas têm dito que o Govenro de Naftali Bennett pode cair se os EUA reabrirem o consulado em Jerusalém AMMAR AWAD/Reuters

A Administração do Presidente dos Estados Unidos não deverá concretizar o plano de reabrir uma missão diplomática para os palestinianos em Jerusalém, disse este domingo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel.

“Tenho boas razões para acreditar que isto não vai acontecer”, disse o responsável, Idan Roll, à televisão do diário de grande circulação Yediot Ahronot, a Ynet news.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse este mês que o plano de reabrir o consulado continua a existir, mas não deu um prazo para a reabertura.

Os EUA tiveram o seu primeiro consulado em Jerusalém muito antes de haver pretensões a um Estado quer de Israel quer da Palestina, lembra o diário israelita Jerusalem Post: o primeiro cônsul foi nomeado em 1844. A localização do consulado que funcionou até 2019 era a mesma de 1912.

Em 2019, a missão diplomática palestiniana foi englobada na embaixada dos EUA, em Jerusalém Ocidental. A mudança foi feita na sequência da decisão do então Presidente, Donald Trump, de reconhecer a pretensão de Israel a Jerusalém como a sua capital, o que aconteceu em 2017. Trump abriu em 2018 a única embaixada do mundo em Jerusalém (as outras estavam em Telavive), uma acção que levou a grandes protestos dos palestinianos, que querem ter a sua futura capital em Jerusalém Oriental, e da comunidade internacional, que queria qualquer questão envolvendo Jerusalém decidida em negociações.

Na sequência da mudança, a Autoridade Palestiniana decidiu que os diplomatas palestinianos não contactariam com os diplomatas americanos deste consulado. A dificuldade de comunicação entre os diplomatas foi, segundo o Times of Israel, um motivo de frustração para os americanos por exemplo durante o conflito de Maio entre Israel e o Hamas, em que morreram 260 pessoas na Faixa de Gaza em ataques israelitas, e 13 pessoas em Israel vítimas de rockets lançados a partir de Gaza.

Joe Biden disse que não reverteria a localização da embaixada ou o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel feito pelo seu antecessor, mas prometeu reabrir o consulado que serve os palestinianos, como parte de um esforço para melhorar as relações. 

O assunto tem feito recentemente títulos na imprensa israelita, como “os EUA vão forçar um consulado palestiniano em Israel”.

A questão pode trazer problemas ao governo de Naftali Bennett, assente numa coligação alargada, com uma maioria mínima, da esquerda à direita. Israel mantém que não há hipótese de haver um consulado na sua capital, com responsáveis a argumentar que não conhecem exemplos em que um país tenha um consulado na mesma cidade que tem a sua embaixada. Numa visita recente a Washington, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Yair Lapid, disse a Blinken que a reabertura do consulado trazia  o potencial de fazer cair o Governo. “Não sei como vamos manter a coligação se reabrirem o consulado”, disse, citado pelo site Axios.

Blinken repetiu que o plano continuava em cima da mesa, mas terá concordado em criar uma comissão conjunta com representantes israelitas para analisar a questão, segundo o Times of Israel.

O Governo israelita parece convencido de que a reabertura não vai acontecer. “Os americanos percebem a complexidade política”, disse Roll. “Não acredito que nos tentem surpreender”, concluiu.

O ministro das Comunicações, Yoaz Hendel, que esteve em Washington na semana passada, olhava para o passado para explicar como acha que a questão se vai desenrolar: “Já tivemos exemplos de promessas fortes no passado”, disse ao Jerusalem Post. “Durante muitos anos, muitas administrações [dos EUA] prometeram, antes das eleições, que iriam mudar a embaixada de Telavive para Jerusalém, e adiaram sempre a mudança”, declarou.

A lei da mudança da embaixada, aprovada pelo Congresso em 1995, foi sempre sujeita a assinaturas, a cada seis meses, para adiamento por Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e até por Donald Trump, que acabou por decidir mudar a embaixada e inaugurá-la no aniversário de 70 anos do Estado de Israel. Agora, Israel espera que sejam os palestinianos a ver adiado o plano para o consulado.

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