Salvini começou a ser julgado por ter impedido o desembarque de migrantes do Open Arms em 2019

Tribunal de Palermo aprovou lista de testemunhas a ouvir e adiou a próxima sessão para Dezembro. O antigo ministro do Interior é acusado de sequestro e pode ser condenado a 15 anos de prisão.

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Salvini vai tentar usar o julgamento a seu favor IGOR PETYX/EPA

O processo contra o antigo ministro do Interior de Itália Matteo Salvini, que lidera o partido de direita soberanista Liga, começou este sábado em Palermo, com o tribunal a admitir uma longa lista de testemunhas e a adiar a próxima sessão para Dezembro. Salvini, que esteve presente no tribunal, é acusado de sequestro de 147 migrantes que estavam a bordo do navio Open Arms, por ter impedido o seu desembarque, durante 18 dias, em Agosto de 2019.

O julgamento pode trazer dificuldades à coligação actualmente no Governo, liderada por Mario Draghi, que inclui ministros do partido de Salvini.

Entre as testemunhas que vão ser chamadas a depor estão o antigo primeiro-ministro Giuseppe Conte, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Luigi di Maio, a actual ministra do Interior, Luciana Lamorgese, e ainda o actor norte-americano Richard Gere, que esteve no navio da organização com sede em Barcelona para ver as condições em que estavam as pessoas a bordo.

O impasse do Open Arms terminou quando a procuradoria de Agrigento, na Sicília, ordenou que fosse permitido o desembarque dos requerentes de asilo, depois de uma inspecção que verificou que as pessoas bloqueadas se encontravam em graves condições físicas e mentais – várias tinham-se lançado ao mar nos dias anteriores, tendo sido resgatadas e levadas de novo para o navio. Nessa altura, Espanha já esperava os ocupantes do Open Arms em Maiorca.

A organização Open Arms disse no Twitter esperar que o julgamento mostre que “ninguém, nem mesmo um ministro, pode recusar um porto seguro a quem salva vidas”.

A estratégia de defesa de Salvini é argumentar que a política de fechar portos foi partilhada por todo o Governo, com o objectivo de pressionar a União Europeia a reabrir o debate sobre a distribuição dos migrantes e requerentes de asilo em todo o espaço europeu, diz o Politico.

Salvini vai ainda tentar usar a seu favor a oportunidade que o julgamento lhe dá para voltar a incluir a questão das migrações na agenda. O seu partido tem perdido terreno para os Irmãos de Itália, de direita nacionalista, e este caso poderá dar-lhe protagonismo como político anti-imigração.

O antigo ministro publicou no Twitter uma foto sua na sala de audiências, criticando o julgamento e o seu custo “para os cidadãos italianos”, e depois fez troça do processo por este ter a presença de Richard Gere como testemunha.

Na altura do caso, Salvini deixou a coligação com o movimento 5 Estrelas com o objectivo de provocar eleições antecipadas, onde esperava beneficiar da sua grande popularidade na altura. No entanto, a estratégia não resultou: não houve eleições, porque o 5 Estrelas negociou uma nova coligação. Salvini esteve no Governo durante 14 meses.

O julgamento poderá demorar vários anos. No final, a pena pode ir até 15 anos de prisão, e sentença definitiva deverá impedir o político de se apresentar a votos ou de assumir cargos governamentais.

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