Fotografia
Steve Birnbaum capta no presente o passado da música
Na sua página de Instagram @thebandwashere, o realizador e fotógrafo norte-americano revisita lugares históricos da música, uma fotografia de cada vez.
Primeiro passo: escolher uma fotografia ou capa de álbum de uma banda ou músico. Segundo passo: dirigir-se ao local em que foi originalmente tirada. Terceiro passo: replicar a fotografia, mantendo a original sobreposta ao cenário. É este o conceito da página de Instagram @thebandwashere (a banda esteve aqui, em português), de Steve Birnbaum. Entre as centenas de publicações, o norte-americano conta com visitas a lugares eternizados nas fotografias de alguns dos artistas e bandas que marcaram a história da música.
Capas e fotografias memoráveis de Bob Dylan, Nirvana, Michael Jackson, Patti Smith, Bruce Springsteen, Ramones ou David Bowie são algumas das memórias revisitadas por Steve, passando ainda pelas ruas do hip-hop nas duas costas norte-americanas, com Notorious B.I.G., Tupac ou Ice Cube.
O realizador freelancer da Pensilvânia, a menos de duas horas de Nova Iorque (onde estudou e chegou a viver), começou a tirar fotografias deste tipo em 2010. Inspirou-se num artigo no Daily Mail que fundia fotografias actuais com registos da Segunda Guerra Mundial. Fê-lo com fotografias de família, nas escadas e jardins da sua infância. Partilhava-as no Facebook e MySpace para os seus amigos, mas o projecto nunca passou disso até a uma visita que fez a Los Angeles, em 2017. Aí decidiu fazer um roteiro por locais que ganharam fama ao surgirem em filmes, videoclipes ou capas de álbuns que marcaram a sua vida. Experimentou a mesma fórmula que aplicava às fotografias familiares e gostou do resultado.
Desde então, prepara sempre as suas viagens para poder revisitar novos pedaços da história da música. Optou por se cingir a esse universo por ter encontrado outra conta de Instagram que já fazia o mesmo com filmes. “Adoro fotografia musical, tem sido uma enorme inspiração ao crescer, assim como a própria música. E gosto mais de fazer isto com fotografias deste mundo do que com cinema. É real, ao contrário dos filmes. Há mais história. Há um fotógrafo e músicos por trás, gosto de mergulhar nisso e aprender mais sobre a história da fotografia”, admite ao P3.
Entre as centenas de fotografias que já tirou, Steve aponta as tiradas em Nova Iorque, onde viveu durante quase 15 anos. Em particular as que recuperam momentos de Bob Dylan, dos Ramones e do movimento hip-hop da cidade. "Nova Iorque foi uma enorme influência, assim como a cultura musical e fotográfica desses músicos." Refere ainda as fotografias dos Nirvana, a sua banda favorita desde a juventude: "Ir a estes sítios em que eles estiveram é importante e tem um efeito duradouro em mim. Especialmente pelo que aconteceu ao Kurt Cobain."
A maior parte do feedback que recebe é dos próprios autores das fotografias, algo que o satisfaz por sentir que é uma homenagem ao trabalho daqueles que admira. Conta com vários intérpretes na sua lista de seguidores, espalhados um pouco por todo o espectro musical, de Herbie Hancock a Grateful Dead, passando por Billy Corgan, dos Smashing Pumpkins, ou John Mayer. Mas o seguidor que destaca é Justin Bieber. O cantor norte-americano provocou uma torrente de novos seguidores quando encontrou o trabalho de Steve Birnbaum.
“Foi estranho. Uma noite estava a dormir e o meu telemóvel começou a explodir. Ele [Justin Bieber] tinha começado a seguir-me e uma série de beliebers [fãs do cantor] enviaram-me logo mensagens: 'Quem és tu, porque é que o Bieber te segue?'. Depois fui às minhas mensagens e ele tinha-me contactado também, elogiou o meu trabalho”, conta. Na altura ainda não tinha nenhuma foto da carreira do artista. “Desde então, fiz uma fotografia do Justin Bieber. Ele gostou da publicação e ainda me segue. É porreiro”, admite.
A página atingiu recentemente os 100 mil seguidores, uma marca redonda que o fotógrafo não valoriza em demasia. Mantém o projecto por gosto, sem fazer dinheiro com isso – nem está à procura disso. “Faço isto porque gosto de o fazer. A partir do momento em que se torna uma coisa comercial, perde uma parte da magia”, explica. “Resulta do meu trabalho em filmes e documentários. A edição é um processo longo, depois de filmar. Perde-se a sensibilidade criativa para as coisas. A edição também é criar, mas está-se sentado à secretária, é longo, aborrecido. Para manter a criatividade a fluir, isto é uma boa maneira de o fazer, sair à rua.”
Fá-lo também pelas sensações que transmite, certo de que quem vê as suas fotografias no scroll do Instagram pára e aprecia aqueles pequenos pedaços de história da música recuperados em fotografias do presente. Especialmente as de artistas que já não estão cá para continuar a lançar música. "Quando são pessoas que já não estão entre nós, o resultado é diferente ao olhar para as fotografias. Especialmente quando me lembro de tirar uma fotografia sem a original na mão, só o espaço vazio. Tem uma ressonância diferente."