Governo quer reunir-se com todos os partidos e solicitou ao BE os termos de acordo escrito

Um chumbo do Orçamento “muito provavelmente” conduziria à dissolução do Parlamento e a eleições legislativas antecipadas, com “seis meses de paragem na vida nacional” avisou Marcelo Rebelo de Sousa.

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Nuno Ferreira Santos

O Governo quer reunir-se com todos os partidos com quem tem negociado a viabilização do Orçamento do Estado e solicitou ao Bloco de Esquerda (BE) que envie o conteúdo e os termos do acordo escrito proposto. Estas informações sobre as negociações sobre o Orçamento do Estado para 2022 foram transmitidas este domingo à agência Lusa por fonte do Governo.

“Nesta semana vamos ter reuniões e queremos reunir com todos os partidos”, disse à Lusa esta fonte do executivo. O Governo “continua a trabalhar com vista a alcançar mais aproximações com os partidos: PCP, BE, PAN, PEV e deputadas não inscritas”, referiu.

“Na sequência das declarações que fizeram nesta semana dirigentes do BE sobre o acordo escrito, o Governo solicitou ao BE que envie o conteúdo e os termos do que entende ser este acordo escrito”, adiantou.

No último orçamento, a abstenção das duas deputadas não-inscritas foi determinante para a viabilização do OE2021, uma vez que o BE votou conta.

Na quinta-feira, em entrevista ao jornal PÚBLICO, a deputada e dirigente do BE Mariana Mortágua afirmou que o seu partido exige “um acordo político com o Governo” para viabilizar o Orçamento do Estado para 2022, que inclua “medidas orçamentais” e também “medidas da organização da sociedade e da economia”, por escrito.

Na sexta-feira, em conferência de imprensa no Parlamento, o BE exigiu que um eventual acordo seja alcançado antes da votação na generalidade, que está agendada para 27 deste mês.

No sábado, o deputado e dirigente do Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) José Luís Ferreira referiu em conferência de imprensa, em Lisboa, que nesta fase em anos anteriores o processo de negociação orçamental “estava muito mais avançado” e que agora nem sequer há qualquer reunião marcada com o PEV.

Questionado se este momento parece ser o fim da solução governativa dos últimos anos, baseada em entendimentos entre o PS e os partidos à sua esquerda, José Luís Ferreira respondeu que “há indícios que apontam para esse sentido” e considerou que, “com este silêncio do Governo, dá ideia de que isto é para morrer”.

Na sexta-feira, após ter sido recebido pelo Presidente da República no Palácio de Belém, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse que “não tem havido grande evolução” nas negociações do Orçamento e que “aquilo que chegou até agora por parte do Governo são coisas claramente insuficientes”.

Segundo Jerónimo de Sousa, é preciso saber se “sim ou não existe essa disponibilidade por parte do PS para continuar a considerar” as propostas “de fundo” do PCP.

Por sua vez, à saída do Palácio de Belém, a coordenadora do BE, Catarina Martins, declarou: “Eu registo que o Governo ainda não deu nenhum passo negocial. Ainda tem tempo para dar esses passos e nós aqui estamos, com toda a disponibilidade, com toda a vontade, para que o país tenha um Orçamento do Estado.” E reiterou que o BE exige “redacções exactas”. 

Na quarta-feira, depois de tanto PCP como BE terem acenado com o voto contra a proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2022 já na generalidade, o Presidente da República considerou que “as pessoas devem pensar duas vezes nas consequências dos passos que dão”.

Um chumbo do Orçamento “muito provavelmente” conduziria à dissolução do Parlamento e a eleições legislativas antecipadas, com “seis meses de paragem na vida nacional”, avisou, argumentando que “dificilmente o Governo poderia continuar a governar com o Orçamento deste ano dividido por 12, sem fundos europeus”.

No sábado à noite, em declarações à SIC e à RTP, em Cascais, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que fez, em público e privado, o que podia para prevenir junto dos partidos uma crise política e afirmou que espera diálogo sobre o Orçamento nos próximos dias.

Sobre as audiências de sexta-feira, o chefe de Estado declarou: “Fiquei exactamente com a ideia que tinha. Mas foi bom ouvir da parte dos partidos, como foi bom que ouvissem da minha parte, para não terem dúvidas, que a alternativa a uma passagem do Orçamento é obviamente umas eleições antecipadas.”