Primeiro-ministro esloveno lança “provocações” no Twitter e colide com homólogo holandês
A troca acesa de palavras na rede social surgiu na sequência da visita de uma delegação do Parlamento Europeu para averiguar o estado da liberdade de imprensa e do Estado de direito na Eslovénia.
O primeiro-ministro da Eslovénia, Janez Jansa, publicou uma série de tweets onde criticou eurodeputados e o seu homólogo holandês, levando o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, a pedir na mesma social para o chefe do Governo esloveno terminar com as “provocações”.
Jansa, conhecido por seguir o estilo do ex-Presidente norte-americano Donald Trump (também pela utilização do Twitter), escreveu as publicações na sequência da visita de uma delegação da comissão das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos do Parlamento Europeu para analisar o estado da liberdade de imprensa e do Estado de direito na Eslovénia, que assume a presidência rotativa do Conselho da União Europeia.
Estando inicialmente previsto encontrar-se com a delegação, Jansa cancelou depois o encontro, motivando a bancada dos Socialistas e Democratas (S&D) a criticar a “cadeira vazia” do primeiro-ministro esloveno no Twitter.
Jansa, por sua vez, acusou na plataforma vários eurodeputados de serem “marionetas de Soros”, aludindo ao filantropo americano-húngaro George Soros, alvo de inúmeras teorias anti-semitas. A publicação foi depois eliminada.
Embalado nas críticas, questionou o Grupo S&D: “Quantas vezes visitaram a chancelaria alemã, o primeiro-ministro holandês ou o Presidente francês? Já agora, o último jornalista assassinado na UE foi nos Países Baixos”, assinalou.
Mark Rutte, o primeiro-ministro holandês, vendo-se envolvido, denunciou no Twitter as palavras de “mau gosto” de Jansa e condenou “fortemente a [sua] atitude”, acrescentando ter transmitido o seu desagrado ao embaixador esloveno nos Países Baixos.
Jansa continuou e, dirigindo-se ao homólogo pelo nome, disse para não perder tempo com embaixadores e a liberdade de imprensa na Eslovénia. Antes, disse para proteger os seus jornalistas “de serem mortos nas ruas”, criticando também a eurodeputada holandesa Sophie in ‘t Veld do Grupo Renovar a Europa, que lidera a delegação parlamentar de visita em Liubliana.
Malik Azmani, o primeiro vice-presidente do Grupo Renovar a Europa, criticou fortemente o primeiro-ministro da Eslovénia, acusando-o de anti-semitismo.
Foi depois a vez do presidente do Parlamento Europeu intervir para apelar ao fim das “provocações”. “Ataques aos membros desta câmara são ataques aos cidadãos europeus”, continuou. Sem espanto, a mensagem não foi bem recebida: “A Eslovénia não é uma colónia”, ripostou mais uma vez Janez Sansa, pedindo a Sassoli para “não abusar do nome do Parlamento Europeu para intrigas políticas”.
Já no final do dia, Charles Michel, presidente do Conselho da UE, relembrou no Twitter que os membros do Parlamento Europeu “deveriam poder fazer o seu trabalho sem qualquer forma de pressão”. “O respeito mútuo entre as instituições da UE e no Conselho da UE é o único caminho a seguir”, continuou.
Esta não é a primeira vez, no entanto, que o dirigente esloveno promove teorias da conspiração ou afirmações falsas no Twitter. Aliás, Jansa mencionou vários políticos que já não são membros do Parlamento Europeu – um deles morreu no início deste ano. No campo da liberdade de imprensa, o primeiro-ministro esloveno é acusado de a sufocar e manipular, nomeadamente com o corte do financiamento público da Agência de Notícias Eslovena.