Temperaturas em Portugal vão continuar anormalmente altas. Porquê?
Início de Outubro sem nuvens tem levado a temperaturas altas para esta altura do ano. Duas localidades estão sob uma onda de calor. Termómetros devem continuar altos pelo menos até ao início da próxima semana.
O Outono já começou há três semanas, mas os termómetros ainda indicam valores veranis. A temperatura em Portugal tem estado acima da média dos últimos 30 anos em Outubro e assim se deve manter nos próximos dias, pelo menos até ao início da próxima semana.
Tanto as mínimas como as máximas no território têm estado “acima dos valores médios para esta altura do ano” na generalidade do país, de acordo com Paula Leitão, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Esta anomalia de temperatura não é, no entanto, significativa ao ponto de se poderem classificar estes dias como uma onda de calor. Há, porém, duas excepções: Alvalade, em Setúbal, e Lousã, em Coimbra, são as únicas localidades a registar temperaturas mais altas que o normal a ponto de ser considerada uma onda de calor: as estações meteorológicas registavam ao início desta tarde 29,7 e 27,4 graus, respectivamente.
“Enquanto a [temperatura normal] é calculada com base num valor médio do mês de Outubro, as ondas de calor são calculadas com base numa janela de dez dias, centrados no dia de hoje”, explica ao PÚBLICO.
O termo é normalmente associado a períodos de Verão mais quentes e de maior risco para a saúde, mas uma onda de calor pode acontecer a qualquer altura do ano e sem chegar e registos preocupantes. Segundo o site do IPMA, “considera-se que ocorre uma onda de calor quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos, a temperatura máxima diária é superior em 5 graus Celsius ao valor médio diário no período de referência”.
Segundo a meteorologista, é “habitual” ter o início deste mês com temperaturas acima da média dos 30 dias – a temperatura vai descendo ao longo do mês de Outubro à medida que se entra no Outono. O índice das ondas de calor compara os valores registados a um intervalo mais curto, tornando mais difícil a ocorrência dessa situação.
Ainda assim, a temperatura no início deste Outubro tem estado mais alta do que aquilo que é normal observar e há várias zonas do país com os termómetros “a andar perto de valores que contribuiriam para uma onda de calor”.
Sul do país mais quente, mas temperaturas acima do normal em todo o território
As temperaturas mais altas têm sido registadas no sul do país, mais concretamente nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e em algumas zonas do Alentejo e do Algarve, com os termómetros a ultrapassarem os 30 graus. A situação deve manter-se assim esta quarta-feira, descendo apenas ligeiramente nos dias seguintes.
“Mantém-se muito dos 30 graus, e isto ainda se vai manter com valores até 30 graus até ao dia 19, e mesmo aí baixa para 28 graus. É uma descida ligeiríssima, muito gradual”, diz Paula Leitão.
A região mais fria do país é a de Trás-os-Montes e Beira Alta, onde as temperaturas estão entre os 20 e os 25 graus – mesmo assim, “muito alto para esta altura do ano”.
No Norte, a situação é idêntica: o Litoral Norte e Centro tem registado valores entre os 25 e os 30 graus, com previsão de que assim se mantenha ao longo da semana.
O registo de temperaturas vai ser acompanhado de céu pouco nublado ou limpo, com vento fraco, apenas mais intenso “durante a madrugada e a manhã nas terras altas do Norte e Centro”. A possibilidade de chuva só surge a partir de domingo no Litoral Norte.
Início do Outono sem nuvens é sinónimo de temperaturas altas
A situação meteorológica actual é resultado da combinação da acumulação de temperatura ao longo do Verão e da ausência de condições propícias a nebulosidade e precipitação, explica Paula Leitão.
“Se a situação meteorológica não for propícia à formação de nuvens e chuva, temos ainda um sol bastante quente, ainda estamos no início do Outono”, diz, acrescentando que tudo foi aquecendo durante os meses de Verão e é nesta altura que está mais quente – inclusivamente a água do mar. Para além disso, o vento é fraco porque “já não há condições para a formação de nortadas”.
Habitualmente, esta combinação de factores é anulada devido à nebulosidade e às chuvas (que nesta altura costumam até ser “quentes”). Porém, este ano não há nuvens.
E porquê? A meteorologista explica que a resposta está perto do Reino Unido, no anticiclone a oeste das ilhas britânicas que tem “empurrado” para a Península Ibérica uma massa de ar sem nuvens e que, ao mesmo tempo, impede que Portugal seja atingido por “superfícies frontais” que se formam ainda mais a Oeste no oceano Atlântico. O fenómeno pode ser visto nas imagens de satélite do IPMA.
Essas superfícies encontram-se sobre os Açores, que têm estado “permanentemente com chuva e trovoadas e uma alternância muito significativa do estado do tempo”. A acção do anticiclone tem desviado as superfícies frontais para norte antes que estas cheguem a Portugal ou à Madeira.