“Ninguém está acima da lei”, mas, depois de rever provas, polícia britânica não vai agir contra o príncipe André
As autoridades informaram, nesta segunda-feira, que não vão tomar mais nenhuma medida sobre o caso, ainda que mantenham a colaboração com as entidades que lideram a investigação de assuntos relacionados com Jeffrey Epstein.
A polícia britânica já reviu as provas relacionadas com as acusações de crimes sexuais contra o filho da rainha Isabel II, referentes ao período em que André mantinha uma amizade com o financeiro Jeffrey Epstein, condenado por abuso sexual de menores de idade e que morreu quando se encontrava detido a enfrentar acusações de tráfico sexual. E as autoridades informaram, nesta segunda-feira, que não vão tomar mais nenhuma medida sobre o caso, ainda que “o Serviço de Polícia Metropolitana continue a colaborar com outras entidades legais que lideram a investigação de assuntos relacionados com Jeffrey Epstein”, lê-se no comunicado, citado pela Reuters.
Em Agosto, e depois de Virginia Giuffre ter apresentado uma acção civil nos EUA em que acusa o príncipe André de agressão sexual quando a própria ainda era menor, a chefe da polícia de Londres, Cressida Dick, garantiu que os investigadores iriam analisar as alegações pela terceira vez, embora não fosse iniciada uma investigação. Ainda assim, sublinhou: “Ninguém está acima da lei.”
No processo, que deu entrada a 9 de Agosto, Virginia Giuffre afirma ter sido forçada a ter vários encontros sexuais com o príncipe no início dos anos 2000, quando tinha apenas 17 anos, depois de ter sido traficada por Epstein. O duque de Iorque, nono na linha de sucessão ao trono britânico, que está afastado dos deveres reais desde que o seu nome foi envolvido com os crimes de Jeffrey Epstein, refuta todas as acusações da norte-americana.
Há uma semana, o príncipe recebeu a primeira boa notícia: a juíza Loretta Preska deu permissão aos advogados de André para receberem uma cópia do acordo confidencial realizado entre o financeiro norte-americano Jeffrey Epstein e Virginia Giuffre. O documento, segundo os defensores do duque de Iorque, “isenta” o cliente de “toda e qualquer responsabilidade”.
Amizades envenenadas
Quando o nome de André surgiu entre as amizades do magnata Jeffrey Epstein, a família real entrou numa espécie de estado de alerta. Não havia, na altura, qualquer suspeita a recair sobre o duque, mas o simples facto de ter mantido uma relação com Epstein, que já tinha sido acusado e condenado por abusos sexuais (em 2008, tendo cumprido 13 meses com trabalho prisional), lançava uma nuvem negra sobre o clã Mountbatten-Windsor.
Até que André decidiu esclarecer o assunto, e foi pior a emenda que o soneto: numa entrevista à BBC, reconheceu a sua proximidade a Epstein e admitiu que ficou na mansão do milionário, em 2010, por “conveniência”. Na mesma entrevista, o duque de Iorque, negou ter mantido qualquer relação com Virginia Giuffre ─ que tinha descrito ter jantado com o filho da rainha Isabel II, ido a uma discoteca londrina após o jantar e que, depois, teria sido abusada sexualmente pelo duque numa casa que pertencia a Ghislaine Maxwell, amiga próxima de Epstein ─, e até frisou que nunca tinha conhecido a jovem.
Porém, uma fotografia em que se vê André e Virginia numa posição de alguma intimidade (o duque tem a mão na cintura da jovem, a abraçá-la), observados por Ghislaine Maxwell, conta uma história diferente. E o príncipe foi obrigado a rever as suas declarações: Afinal, não era que nunca a tivesse conhecido, mas que não se lembrava.
“Não tenho qualquer recordação de alguma vez ter conhecido essa senhora”, afirmou à BBC. Após confrontado com a tal fotografia, o príncipe disse que não tinha qualquer recordação do momento em que a imagem tinha sido capturada. Alegou, também, que a fotografia aparentava ter sido registada no andar de cima da casa de Ghislaine Maxwell, piso que pensa “nunca ter visitado”.
As contradições não foram bem acolhidas pelos súbditos de Isabel II, o que resultou no afastamento de André da vida pública da coroa, com o objectivo de evitar mais embaraços e permitir que o duque colaborasse com a investigação relativa ao escândalo Epstein. Só que do outro lado do Atlântico a história que se contava era outra. Em Janeiro de 2020, o procurador Geoffrey Berman acusou André de não cooperar com a justiça norte-americana na investigação sobre Epstein.
André não é o único nome sonante que surge entre as amizades de Epstein, encontrado morto na sua cela numa prisão de segurança máxima, em Manhattan, Nova Iorque, tendo sido declarado o suicídio. Da lista, destacam-se ainda um antigo governador do Novo México, Bill Richardson, e um antigo senador norte-americano, George Mitchell. Porém, mesmo aqueles que aparentemente apenas se cruzaram com o magnata terão respondido por essa proximidade: foi o caso de Bill Gates, que lamentou ter-se encontrado com Epstein em jantares de angariação de fundos para causas filantrópicas, reconhecendo que foi “um grande erro”.
Só que os encontros, afinal, não se terão limitado a jantares, e a amizade entre os dois homens terá sido o rastilho para um dos divórcios mais dispendiosos de sempre: Bill e Melinda anunciaram o fim do casamento e, no mesmo dia, o fundador da Microsoft transferiu para a mulher acções no valor de quase 2,4 mil milhões de dólares.