O adeus elegante de Miguel Sousa Tavares ao jornalismo e o vinho-espectáculo
“Muito obrigado a quem esteve comigo ao longo destes 45 anos de jornalismo.” Imagino o aperto que terá sentido. Foi uma despedida sem ruído e elegante, que terá deixado muitos telespectadores, como foi o meu caso, com um nó na garganta, porque não deve ser fácil dizer adeus ao jornalismo. A partir de agora, Miguel Sousa Tavares vai poder dedicar-se mais ao campo e ao vinho.
“O que é uma casta?”, perguntou-me Miguel Sousa Tavares. Apanhado de surpresa com a singeleza da pergunta, não soube responder o óbvio. Em vez de dizer que é uma variedade específica de uva, meti-me num lamaçal ao tentar ir mais longe na resposta, procurando explicar que nem todas as uvas são boas para vinho e que aquelas que mais usamos hoje têm origem em videiras que foram enxertadas em pés mães de origem americana, o chamado porta-enxerto, um auxiliar apenas. A casta, criada artificialmente ou por cruzamento natural, corresponde ao garfo (um troço de videira de uma variedade específica) que é enxertado nesse porta-enxerto e que vai dar origem a uma videira nova. Acabei na filoxera, sem explicar nada de jeito, e com a consciência de que quanto mais falasse mais me enterrava, porque em televisão não há tempo para remediar o erro e o ridículo. Foi então que Miguel Sousa Tavares, vendo-me em apuros, me lançou uma corda, mudando de assunto.
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