O culto de Kirsten Dunst numa série sobre o sonho americano
On Becoming a God in Central Florida chega esta segunda-feira a Portugal, dois anos após a estreia nos EUA mas a tempo de mostrar uma actriz no seu melhor e um país no seu pior... esquema em pirâmide.
O sonho americano, dizem eles. Enriquecer rápido, enriquecer jovem, deixar um rasto de cadáveres pelo caminho. Estes não são os anos 1990 bonitos de se ver, a cheirar a espírito adolescente ou a dançar Vogue com Madonna. On Becoming a God in Central Florida é uma série sobre uma Kirsten Dunst amadurecida pelo sol da Flórida e moída pela vida. Os seus são os anos 1990 ainda congelados nos anos 1980 e dominados por um culto, que não é religioso mas igualmente perigoso: um esquema em pirâmide de compra e revenda de produtos. Um esquema por definição é insustentável erguido sobre as costas dos mais fracos, aqueles que estão na base da pirâmide, aqueles como Krystal Stubbs, um dos papéis da carreira de Kirsten Dunst que só agora chega a Portugal.
A estreia é esta segunda-feira no TVCine Emotion, às 22h10, e conta logo com Dunst e com Alexander Skarsgård nos principais e primeiros papéis. Esta é mais uma comédia negra, esse género híbrido que parece estar por todo o lado, e uma produção da Showtime que faz os canais TVCine falar de “noir tropical” mas que evoca uma certa maldisse sulista americana que só mesmo Kirsten Dunst podia suportar.
É que On Becoming a God in Central Florida está sobre os ombros de Kirsten Dunst não só por ela ser a protagonista e produtora executiva (o que significa que teve mão no percurso da sua personagem) mas por ela ser a estrela de um 1992 com muito pouco brilho numa série com alguns tropeços da parte de Robert Funke e Matt Lutsky, os seus autores, ao longo destes dez primeiros episódios. Ela é uma ex-rainha de beleza que perde tudo e aposta para ganhar.
É só ao terceiro episódio que a reviravolta necessária para contar esta Erva (também da Showtime) na Flórida se opera, desencadeando o que é, de facto, On Becoming a God in Central Florida. Um spoiler final: a série termina no décimo episódio, vítima da pandemia e de uma reviravolta na sua própria vida de bastidores. Depois de andar entre o canal AMC e o YouTube, aterrou na Showtime e foi aprovada uma segunda temporada em 2019, mas com o impacto da covid-19 nas produções o canal americano deixou mesmo cair a série.
“Os esquemas em pirâmide são uma parte significativa da nossa cultura e não sabia muito sobre eles. Achei que era uma forma verdadeiramente boa de falar sobre o sonho americano... o que faz às pessoas”, disse Dunst em 2019 ao diário britânico The Guardian. O elenco conta com Beth Ditto, a vocalista dos Gossip, Mel Rodriguez, Ted Levine ou um frenético Théodore Pellerin nos principais papéis e o outro produtor executivo sonante é George Clooney.
A febre de enriquecer é pintada com as cores dos pastéis da Flórida e dos anos 1980 a desvanecer-se, de um parque aquático aos pântanos perigosos que o estado americano tão bem esconde, aparelhos nos dentes e penteados mullet (tudo sério à frente, uma festa de cabelo atrás) a rodopiar a caminho da desgraça. Tudo porque Krystal tem uma certeza apenas: “Não voltarei a ser pobre”.