Do Alentejo a Berlim, Emma faz das tampas do esgoto a sua arte

Emma-France Raff estampa tote bags, T-shirts e pósteres com designs únicos retirados das tampas de esgoto, sarjetas ou até da própria calçada. E tudo começou em Portugal.

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Raubdruckerin é o nome do projecto de Emma-France Raff que aproveita as particularidades mais esquecidas das ruas das cidades, como as tampas de esgoto ou até as linhas de comboio para criar padrões gráficos que são depois transferidos para peças de roupa ou de decoração. 

“Quando escolhi o nome não pensei bem em como quase o mundo inteiro não o consegue dizer, só os alemães conseguem”, admite Emma-France Raff ao PÚBLICO. “Basicamente, significa ‘cópia pirata’”, esclarece. E é, no fim das contas, isso que melhor descreve o objectivo do projecto, reproduzir os pequenos detalhes da cidade, dos mais simples aos mais complexos, que chamam a atenção da artista de 38 anos e passam despercebidos ao olhar comum. 

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“Quando visito um sítio, se calhar não vou ver os monumentos mais conhecidos, mas reparo nas tampas de esgoto. É uma coisa na cidade muitas vezes bem-feita e que conta em si uma história”, justifica a artista germânica. “É algo que as pessoas nem reparam no dia-a-dia, porque olhamos para a frente e andamos por cima delas, sem as vermos e no fundo elas também são arte.” 

O processo de produção é simples: todos os produtos são feitos à mão e estampados no local, em plena via pública, o que suscita muitas vezes olhares curiosos. “Às tantas as pessoas juntam-se a nós, interagem connosco ou até contam histórias que têm sobre as tampas”, revela. Apesar do seu estúdio estar agora sediado em Berlim, Emma-France Raff não se limita a terras alemãs e conta já com mais de vinte cidades representadas nos designs das suas peças, que servem um pouco como “uma lembrança por onde passa”. Entre elas, estão Lisboa e Porto. 

De facto, tudo começou quando a artista vivia no Alentejo, depois de se ter mudado com nove anos para Portugal. Na altura, morava com o pai, o pintor Johannes Kohlrusch, com quem foi dando asas à imaginação e fazendo as primeiras experiências, literalmente em solo português. “Como ainda estava a estudar, pedi os materiais na escola, mas eles não acharam muita piada: ‘O que é que vais fazer? Pôr tinta na rua?’”, conta. Emma-France Raff recorda-se da primeira tampa que pintou no Alentejo: “Não era nada demais, dizia só ‘Águas’, mas foi à mesma especial porque, no fundo, abriu as portas a todo este projecto.”

A ideia, que se chegou a chamar “estampatampa’, foi inclusive apresentada no festival Músicas do Mundo, em Sines, antes do regresso da artista à Alemanha, tinha então 25 anos. Com a mudança, as estampagens ficaram em pausa, mas bastou Emma deparar-se com uma tampa de esgoto em Berlim para querer tentar outra vez. “Então participei num evento de arte alemão e as pessoas gostaram muito. Aí percebi que tinha de continuar.”

Agora, com uma loja online e uma equipa de duas pessoas, a marca diz ser “eco-friendly”, usando apenas tinta sustentável, feita à base de água e totalmente livre de petróleo. Além disso, todos os produtos vendidos têm ainda o certificado de algodão orgânico e a marca garante só trabalhar com fornecedores associados à Fairwear Foundation (FWF), organização que assegura melhores condições laborais para trabalhadores de fábricas têxteis. 

Para o futuro, o projecto pretende “descobrir e estampar as superfícies espalhadas pelo mundo fora”, lê-se no site, estando já em mente uma digressão pela Europa e, um sonho ainda por concretizar, passar pelos EUA e pelo Japão, que tem, segundo a marca, as tampas de esgoto com os relevos mais extravagantes a nível mundial. 


Texto editado por Bárbara Wong

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