Apesar da garantia dada por muitos trabalhadores do BCP e do Santander de que iriam fazer greve, “o medo prevaleceu” e o impacto da greve, marcada para esta sexta-feira, não terá encerrado muitos balcões, embora tivesse marcado o ritmo de atendimento dos clientes.

Nem os sindicatos tinham grandes expectativas a esse nível, dado o elevado número de trabalhadores que assumiram com antecedência que “concordavam com a greve, gostavam de fazer greve, mas não podiam por este ou aquele motivo”, disse ao PÚBLICO Helena Carvalho, presidente do Sindicato dos Bancários do Centro (SBC).

O dia de greve nos dois bancos é um protesto contra a vaga de despedimentos em curso nas duas instituições, cerca de dois mil ao longo do corrente ano, mas também contra a forma como estão a decorrer, ao incluir despedimentos colectivos de perto de 300 trabalhadores.

“O clima de medo que se vive no sector bancário impediu que mais trabalhadores participassem nas manifestações e na greve”, assegurou a presidente o SBC, à margem da manifestação no Porto, junto a um balcão do Santander.

Também o presidente do Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos, Paulo Marcos, que participou na manifestação realizada no Porto, considerou que “os trabalhadores da banca deram um sinal único e importante para outros despedimentos que possam estar a ser ponderados noutras instituições bancárias”. E garantiu ao PÚBLICO que “a luta não vai parar”.

Em comunicado, os sindicatos consideram que “1 de Outubro é mais um dia histórico para os bancários”, e “um enorme êxito”. A greve foi convocada por seis dos sete sindicatos do sector - o SIB, o SBC, o SinTAF, o SNQTB, o Mais Sindicato e o SBN, e contou ainda com a solidariedade do STEC – Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD.

Os sindicatos adiantam que “a adesão à greve demonstra objectivamente a justiça das reivindicações dos bancários e que os trabalhadores do Banco Santander e BCP se identificam com os motivos que conduziram à convocação da greve pelos sindicatos”.

“Exigimos, assim, o fim imediato dos processos de despedimento colectivo em curso no Banco Santander e BCP, que são injustos, injustificados e sem fundamento”, lê-se no comunicado.

As seis estruturas sindicais dizem exigir “o fim do clima de instabilidade, insegurança e pressão, visando que os trabalhadores aceitem condições de revogação do contrato de trabalho que não desejam e que colocam em causa a própria sustentabilidade financeira dos trabalhadores e seus agregados familiares”.

Os seis sindicatos garantem que “continuarão, como sempre, a defender os bancários, exigindo a justiça e o respeito que merecem, continuando sempre a lutar contra o clima de medo que se vive actualmente na banca”.

Os sindicatos dizem lamentar “a intransigência” das administrações dos dois bancos: “Fizemos inúmeras reuniões com as administrações do BCP e do Santander, fizemos um conjunto de propostas, nomeadamente para quem eventualmente queria sair, para que optassem, sempre que possível, por reformas antecipadas, mas não aceitaram nada”, adiantou ao PÚBLICO a presidente do Sindicato dos Bancários do Centro. Helena Carvalho lamenta ainda que “as propostas de indemnização sejam reduzidas, dadas as dificuldades de muitos daqueles trabalhadores têm de arranjar novo emprego ou de mudar de vida”.

A responsável refere ainda que, “lamentavelmente, as condições e todo o processo de redução de trabalhadores no Banco Santander em Espanha são melhores”  

Santander e BCP minimizam impacto

“O serviço aos clientes não foi afectado e 99% da rede está a funcionar”, garantiu ao PÚBLICO fonte oficial do Banco Santander Totta, acrescentando que a instituição “tem expectativa e desejo de que se chegue ao maior número possível de acordos”. Adianta que todos os dias há mais trabalhadores a aceitar as propostas de rescisão por mútuo acordo” e que o número inicialmente referido de cerca de 200 colaboradores a integrar no processo de despedimento colectivo já é inferior, sem, no entanto, quantificar.

A fonte oficial do banco Santander referiu ainda que as condições oferecidas aos colaboradores que saem “não têm paralelo no sector, não só pelo valor da indemnização, mas também pela garantia a serviços de saúde, ou ainda o apoio do banco para que encontrem emprego ou criem o seu próprio emprego”.

Contactado pelo PÚBLICO, o BCP escusou-se a fazer comentários sobre a greve. Mas o presidente da comissão executiva, Miguel Maya, enviou uma mensagem aos trabalhadores, onde refere que “o banco funcionou durante o dia desta sexta-feira com total normalidade e sem qualquer perturbação”. E acrescenta: “Não vamos comentar opiniões nem fazer um balanço, como muitas vezes é habitual, situando o tema no domínio do sucesso ou insucesso da greve. Para a Comissão Executiva o facto de se realizar uma greve no BCP, mesmo que sem qualquer expressão ou impacto, é algo que não nos orgulha”.

Na comunicação, a que o PÚBLICO teve acesso, Miguel Maya considera que “os sindicatos e a comissão de trabalhadores não são inimigos nem sequer adversários”, acrescentando que ele próprio é sindicalizado desde 1990 e que não deixou de o ser quando assumiu a responsabilidade de administrador. Sublinhando ainda que as duas organizações “são indispensáveis” e que “têm por missão defender os trabalhadores e que promovem essa defesa com a perspectiva que têm do respectivo posto de observação. Merecem assim todo o nosso respeito, mesmo quando discordamos em absoluto, como é o caso, sobre os fundamentos para esta greve”, lê-se na nota interna.

O CEO do BCP reafirma que “a comissão executiva ajusta os planos em função de múltiplos factores, entre os quais a evolução tecnológica e o respectivo impacto nos modelos de relacionamento com os clientes, e implementa a estratégia do banco a partir do conhecimento obtido de múltiplas perspectivas, pois tem a responsabilidade de ponderar diversos pontos de vista e gerir o banco na defesa dos interesses de todos os stakeholders, entre os quais os dos trabalhadores”. 

“Sabemos bem que os trabalhadores constituem o elemento mais distintivo da nossa cultura empresarial e que os sucessos que temos alcançado não teriam sido possíveis, em dimensão e abrangência, sem os excelentes profissionais do Banco Comercial Português. É factual e demonstrável. Mas sabemos ainda melhor, por experiência própria, que em nenhuma circunstância poderemos escolher o caminho fácil em detrimento do caminho que consideramos correcto, mesmo que tal implique, como é o caso, tomar no presente decisões difíceis mas que temos por necessárias para o desenvolvimento sustentável do banco e dos seus trabalhadores”, refere.