PS vangloria-se com resultado das eleições e PSD reclama louros para ser “alternativa a este Governo”
Socialistas e sociais-democratas não se entendem na contagem das presidências de câmaras de cada um. Oposição reclama cumprimento das promessas de António Costa sobre os fundos do PRR - para todos e não só para os autarcas do PS.
O plenário da Assembleia da República dividiu-se esta quarta-feira sobre quem efectivamente ganhou as eleições autárquicas de domingo, com o PS a reclamar vitória com números e o PSD a dizer que teve uma “vitória política” porque cumpriu os objectivos de conseguir mais presidências de câmara, mais eleitos, mais votos e o de erguer a bandeira de Lisboa.
Para os sociais-democratas não há dúvidas: “Os indicadores demonstram a clara vitória política do PSD nestas eleições autárquicas. Invertemos o ciclo político autárquico iniciado em 2009 e estamos em melhores condições de ser alternativa a este Governo em 2023”, vincou o secretário-geral José Silvano nesta quarta-feira no Parlamento. E lembrou que Rui Rio, quando tomou posse como presidente do PSD, defendeu que as autárquicas são as eleições "mais importantes do país”.
José Silvano lamentou o nível de abstenção e lembrou que o PSD, no devido tempo, defendeu o adiamento da data das eleições para permitir maior envolvimento na campanha, e sustentou ser necessário os partidos pensarem em soluções legislativas que ajudem a combater o problema.
O secretário-geral do PSD afirmou ser tempo de recuperar a economia e dar às autarquias os instrumentos financeiros necessários, vindos do PRR e do quadro comunitário de apoio, desafiando António Costa a cumprir o que andou a prometer em “romaria” pelo país.
As declarações políticas no plenário tinham começado com o PS, que trouxe o tema das autárquicas para se vangloriar de ter ganho 152 câmaras - na verdade, sozinho, o PS venceu 148 presidências, mais uma em coligação liderada pelo Livre (Felgueiras) e apoiou, sem integrar listas, três candidaturas independentes - ao passo que o PSD apenas venceu 114 (42 delas em coligação).
Já o número dois do PS foi desfiando estatísticas comparando o PS e o PSD em cenários com e sem coligações, com vantagem para o primeiro nos votos, nas presidências de juntas, câmaras e assembleias municipais.
José Luís Carneiro vincou que “o PS foi o único partido que concorreu em todos os municípios do país”, mas sem referir que em quatro apenas deu apoio a independentes - a lei não permite listas conjuntas entre partidos e independentes -, que manteve as presidências das associações de municípios e de freguesias.
“Não temos o hábito de transformar derrotas em vitórias, mas também não aceitamos que tentem transformar a nossa vitória numa derrota. O PS ganhou e ganhou bem!” Os objectivos seguintes para o curto prazo são a recuperação económica e social, concluir o processo de descentralização e “preparar o caminho para a consulta popular sobre a regionalização”.
Depois desta intervenção, o próprio secretário-geral socialista e primeiro-ministro, António Costa, enviou um SMS aos militantes do PS sinalizando que o partido “ganhou pela terceira vez consecutiva as eleições autárquicas”. “Continuamos a ser o maior partido local (...) Continuaremos a presidir à ANMP e à ANAFRE. Entre as derrotas que lamentamos e as vitórias que festejamos, é no conjunto nacional que se vê quem ganhou”, escreveu ainda o líder do PS na mensagem enviada aos camaradas de partido.
Dos restantes partidos vieram críticas generalizadas às promessas do primeiro-ministro sobre o PRR - Plano de Recuperação e Resiliência e à “promiscuidade” entre o Governo e candidatos autárquicos. E o social-democrata Fernando Ruas, que ganhou a câmara de Viseu, deixou um desafio ao número dois do PS: “Está disposto a fazer coro connosco para reclamar estas promessas que o primeiro-ministro fez?” Ruas ainda avisou: “Inventariaremos as promessas e não deixaremos o Governo um só segundo enquanto não as cumprir. Não se podem fazer promessas só para alguns.”
A ecologista Mariana Silva também quis saber se já há “calendário para o cumprimento das promessas que o primeiro-ministro andou a fazer por todo o país”. O centrista Pedro Morais Soares lembrou as capitais de distrito que o PS perdeu - agora tem cinco, o PSD 11 e a CDU duas -, o que foi um “cartão amarelo” aos socialistas.