A decisão da juíza Brenda Penny, na audiência que decorreu nesta quarta-feira, avançada pelo New York Times, em Los Angeles, permite que, pela primeira vez desde 2008, Britney Spears se sinta livre da influência do pai, que acusou de abuso e que terá, a partir desta data, de ficar longe da fortuna da filha, avaliada em cerca de 60 milhões de dólares (51,7 milhões de euros). De acordo com o mesmo jornal, a magistrada concordou com o advogado Mathew Rosengart na alegação de que suspender o pai da artista da função de curador era do interesse da cantora, considerando que “a situação actual não é defensável”.

Durante a audiência, Mathew Rosengart descreveu James Spears como​ “um homem cruel, tóxico e abusivo”. “Ela quere-o fora da sua vida hoje, em vez de uma presença persistente e tóxica”, declarou Rosengart. “Britney merece acordar amanhã sem o pai como seu curador.” E a juíza anuiu.

A notícia deixou a multidão, que assentou arraiais à porta do tribunal para apoiar a artista — e que esteve na base do movimento #FreeBritney (cujo “apoio tem sido fundamental”, considerou Rosengart) —, em êxtase: houve gritos, abraços, lágrimas. Terá sido também a chorar que a própria ouviu o deferimento: "Britney rebentou em lágrimas ao ouvir a decisão da juíza”, avança o New York Post. Pouco depois, Britney publicava no Instagram um vídeo a pilotar um avião, naquilo que foi interpretado pelos seus seguidores como uma alusão ao sentimento de liberdade: “Na nuvem 9 neste momento ☁️✈️ !!!! Primeira vez a pilotar um avião”, escreveu a cantora. “Voa livre”, comentaram os fãs.

Sem o pai, mas ainda sob supervisão

O afastamento do pai do papel de curador (já tinha deixado de ser seu tutor, em 2019, papel que lhe permitia tomar decisões sobre os seus assuntos pessoais, incluindo médicos) não significa, porém, que Britney Spears tenha recuperado o controlo da sua vida, estando ainda a ser analisada a questão do levantamento da supervisão estabelecida há 13 anos, quando a jovem estrela foi considerada inapta a tomar decisões quer pessoais quer financeiras. Até lá, o tribunal nomeou o contabilista John Zabel para assumir, temporariamente, a gestão das finanças da cantora.

O afastamento do pai não foi apenas pedido pela cantora, como pelo próprio. A advogada de Jamie Spears, Vivian Lee Thoreen, que tinha estado entre os mais ferozes defensores da tutela, pediu para que fosse posto um ponto final ao vínculo, considerando que uma suspensão não é suficiente.

No entanto, o advogado de Britney Spears pretende que o tribunal investigue a conduta do curador dos bens da artista, questionando a sua gestão do património, incluindo o valor do salário auferido pelo pai, mas também comissões que não teriam enquadramento legal. Mathew Rosengart pediu para que seja marcada uma audiência para decidir a rescisão daqui a um período de 30 a 45 dias. 

Houve má gestão?

“A minha cliente quer, a minha cliente precisa, a minha cliente merece uma transição ordeira”, defendeu o advogado. A próxima audiência, que poderá afastar definitivamente James P. Spears da vida da filha, foi marcada para 12 de Novembro. No entanto, isso também poderá acontecer mais tarde, já que a juíza pretende averiguar se o pai cumpriu ou não com os seus deveres ou se incorreu em má gestão ou “flagrante imoralidade”.

De acordo com a Forbes, o pai recebeu, ao longo de mais de uma década, um salário mensal de 16 mil dólares (quase 13.800€), além de ter sido Britney a pagar pelo seu escritório (uma renda de dois mil dólares/mês) e despesas legais e de representação no valor de centenas de milhares de dólares. Consta ainda que o pai recebia uma comissão por cada espectáculo da artista. No total, escreve a mesma publicação, Jamie Spears terá recebido pelo menos cinco milhões de dólares brutos (4,3 milhões de euros) desde Fevereiro de 2008.

Outra questão que deverá ser levantada pelo advogado de Britney passa pela denúncia de que o pai contratou uma empresa de segurança para controlar todas as chamadas e mensagens, inclusive as trocadas com o advogado na época. “Interceptar ou monitorizar as comunicações de Britney, especialmente as comunicações sacrossantas advogado/cliente, representa uma violação vergonhosa e chocante da sua privacidade e liberdades civis”, disse, citado pela Reuters, considerando ainda que a colocação de um dispositivo de escuta no quarto de Britney foi “particularmente vergonhosa”.

Por tudo isto, Rosengart deixou no ar a suspeita de o pedido de James Spears para se afastar da tutela estar relacionado com o seu desejo de “evitar a responsabilização e a justiça, incluindo sentar-se para um depoimento juramentado”.