Nossa Senhora dos mass media
Um filme com um poder intrigante e interpelador: fala de nós, Europa 2021.
O que em France mais surpreende, e quase choca, o espectador conhecedor da obra de Bruno Dumont é a forma como o filme, desde o princípio, nos atira para um universo até hoje estranho ao seu cinema (a televisão, a “democracia mediática”) e o faz através de uma saturação de sinais da “contemporaneidade”. Não é necessariamente inédito: pensamos em Hadewijch, filme que associava uma preocupação central de Dumont (a atracção pela santidade, para o dizer simplesmente) a um fenómeno marcadamente “contemporâneo” (o terrorismo de inspiração islâmica), mas nem isso se compara ao modo como as coisas se passam em France. Sirva de exemplo logo a sequência inicial, que tem como “actor secundário” nem mais nem menos do que Emmanuel Macron, e é tão bem feita que durante alguns minutos nos interrogamos se foi conseguida à custa de um exercício brilhante de montagem, ou de uma extrema sofisticação do “deepfake” digital, ou mesmo de uma participação especial do actual Presidente da República de França.
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