Próxima cimeira do clima da ONU tem de ser “ponto de viragem para a humanidade”, diz Johnson
A COP 26, marcada para daqui a 40 dias em Glasgow é a oportunidade para o mundo mostrar finalmente “maturidade” e “sabedoria”, afirmou o primeiro-ministro britânico no seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas.
“Chegou o momento de a humanidade crescer”, disse o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque. “É altura de ouvirmos os avisos dos cientistas - olhem para a covid, se quiserem um exemplo de cientistas pessimistas que provaram estar certos - e de entender quem somos e o que estamos a fazer”, defendeu, num discurso inteiramente dedicado às alterações climáticas. Sem uma acção conjunta e determinada contra o aquecimento global, em breve o planeta se tornará “inabitável”, “não só para nós mas para muitas outras espécies”.
A pouco mais de um mês da COP26, a cimeira do clima das Nações Unidas, marcada para o início de Novembro, em Glasgow, Johnson comparou a humanidade a um adolescente de 16 anos “com idade suficiente para já se meter em problemas graves”. “Chegámos àquela idade fatídica em que sabemos mais ou menos como conduzir e como abrir o armário de bebidas e em que nos podemos envolver em qualquer actividade, não apenas potencialmente embaraçosa, mas também terminal”, afirmou.
“Acreditamos que outra pessoa vai limpar a confusão que fazemos, foi isso que aconteceu sempre”, disse. “Destruímos os nossos habitats repetidas vezes com a lógica de que se nos livrámos das consequências até agora, vamos voltar a livrar-nos”, descreveu. Só que “a adolescência da humanidade está a chegar ao fim”, apontou. “Temos de nos unir numa maioridade colectiva”.
“É por isso que a COP26 em Glasgow é o ponto de viragem para a humanidade”, defendeu Johnson. "Devemos limitar o aumento das temperaturas. Devemos mostrar que temos maturidade e sabedoria para agir”, acrescentou. O tempo para isso está a escassear “cruelmente”.
A intervenção do chefe de Governo britânico ocorre semanas depois da divulgação do novo relatório do IPCC (sigla inglesa de Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) onde se afirma que, em qualquer cenário, o planeta deve aquecer 1,5 graus até 2040. Confirmando a enorme influência humana no aquecimento global e nos fenómenos a ele associados, o documento conclui que o planeta está a aquecer mais e a um ritmo sem precedentes. “Qualquer grau adicional à temperatura global trará mais consequências. É esta informação que temos para os políticos poderem decidir cuidadosamente o que querem fazer”, afirmou na apresentação do estudo Valérie Masson-Delmotte, presidente do grupo responsável pelo documento.
Partindo dos actuais compromissos dos países para a redução de emissões de gases de efeito estufa, “o mundo está a caminhar para um aquecimento global “catastrófico” de + 2,7 graus, longe do objectivo de 1,5 para limitar os efeitos destrutivos da alteração do clima, alertou há dias o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Sem uma mudança de “trajectória”, afirmou, a COP26 arrisca terminar em fracasso.
Johnson disse que é fundamental que o resultado da Cop26 mantenha a meta de conter o aquecimento global nos 1,5 graus. “Não estamos a falar em deter o aumento das temperaturas - infelizmente é tarde demais para isso -, mas em conter esse crescimento em 1,5 graus. E isso significa que precisamos nos comprometer colectivamente em alcançar a neutralidade de carbono até meio do século. E se conseguirmos esse será um momento incrível”, afirmou.
No primeiro dia da Assembleia Geral, na segunda-feira, o Presidente norte-americano, Jo Biden, anunciou que os Estados Unidos vão duplicar a ajuda financeira às nações mais pobres para “mudarem para energias limpas”. Pouco depois, foi o líder chinês, Xi Jinping, a prometer, no mesmo fórum, que Pequim vai deixar de construir centrais a carvão no estrangeiro para lutar contra o aquecimento global.
Para além de Johnson, o presidente da COP26, Alok Sharma, também está em Nova Iorque, aproveitando a Assembleia Geral para reuniões bilaterais com uma série de países, pressionando-os a apresentarem dinheiro e metas mais ambiciosas de redução do clima nas próximas semanas. Biden já confirmou que estará presencialmente na cimeira, falta saber se o mesmo fará Xi Jinping.