EUA acusam China de “intimidação” e tentam acalmar a indignação francesa
Secretário de Estado norte-americano admite que o acordo AUKUS com Austrália e Reino Unido destina-se a conter o expansionismo chinês na região do Indo-Pacífico e diz que França é um “parceiro vital” para a segurança mundial.
Um dia depois do anúncio da parceria de segurança tripartida para o Indo-Pacífico, os Estados Unidos acusaram directamente a China de “intimidar” os países da região, ao mesmo tempo que tentaram acalmar a França, que classificou o acordo AUKUS como “uma facada nas costas”.
Numa conferência de imprensa conjunta, o secretário de Estado, Antony Blinken, o secretário da Defesa, Lloyd Austin, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Marise Payne, e o ministro da Defesa australiano, Peter Dutton, abordaram várias questões relacionadas com o acordo, com o chefe da diplomacia norte-americana a chamar para si a defesa do pacto que autoriza o acesso da Austrália à tecnologia para o desenvolvimento de submarinos nucleares em detrimento do chamado “acordo do século” com França.
Blinken tentou pôr água na fervura da indignação do Governo francês, que classificou como um “parceiro vital” em questões de segurança. “Quero enfatizar que cooperamos estreitamente com França em muitas prioridades, não só na região do Indo-Pacífico, mas também em todo o mundo”, afirmou.
O secretário de Estado norte-americano sublinhou que, no encontro com os australianos antes da conferência de imprensa, os dois países comprometeram-se com a defesa de uma “ordem internacional baseada em regras”, admitindo que foi o expansionismo agressivo da China na região que motivou o pacto tripartido entre EUA, Reino Unido e Austrália.
“O mundo viu a resposta agressiva da China quando a Austrália liderava os apelos para uma investigação sobre as origens da covid-19. E Pequim viu nos últimos meses que a Austrália não recuará e que ameaças de retaliação económica e de pressão não funcionarão. Os EUA não vão deixar a Austrália enfrentar sozinha estas tácticas de pressão”, acrescentou Blinken.
Por sua vez, o secretário da Defesa dos EUA insistiu no papel “desestabilizador” de Pequim e acusou também a China de “coagir e intimidar” os outros países da região. “Ao mesmo tempo que procuramos manter uma relação construtiva com a China, não podemos esquecer os esforços de Pequim para minar a ordem internacional estabelecida”, alertou Lloyd Austin.
Já a ministra australiana dos Negócios Estrangeiros esclareceu que falou com os representantes da Administração Biden sobre “a concorrência da China em vários níveis”, que “obriga a Austrália a responder e a aumentar a sua resiliência”, ressalvando que o país da Oceânia está, ainda assim, disposto a dialogar com Pequim “sem condições prévias”.
“A liderança dos Estados Unidos no Indo-Pacífico continua a ser indispensável. Temos que preservar e moldar a ordem internacional que sustentou décadas de prosperidade e estabilidade económica na região do Indo-Pacífico”, disse Marise Payne.
O Governo australiano confirmou também que o AUKUS servirá para aumentar a colaboração militar com os EUA, que incluirá “o aumento da rotação de aviões militares norte-americanos na Austrália, incluindo bombardeiros”, revelou o ministro da Defesa, Peter Dutton, indicando que o número de tropas norte-americanas em solo australiano deverá também aumentar no futuro próximo.
“Este pacto de defesa surge num momento de grande incerteza na região do Indo-Pacífico”, afirmou Dutton, antes de responder às críticas de Pequim ao acordo tripartido: “Não é a primeira vez que vemos as explosões indignadas da China em relação à posição da Austrália”.