Macau regista a maior abstenção nas eleições para o parlamento desde a transição
A comissão eleitoral de Macau atribuiu a baixa participação nas urnas à pandemia e ao mau tempo, considerando que a desqualificação de candidatos pró-democracia não foram “o factor principal” da abstenção.
Nas eleições de domingo para a Assembleia Legislativa de Macau, a lista da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau conseguiu o maior número de deputados na votação por sufrágio directo para o parlamento do território. O processo eleitoral foi marcado por uma abstenção recorde e pela exclusão dos candidatos pró-democracia.
Dos 33 deputados que compõem a assembleia, 14 são eleitos por sufrágio directo, 12 por sufrágio indirecto e outros sete são nomeados pelo chefe do executivo.
Segundo os dados da Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), divulgados na madrugada de segunda-feira em Macau (noite de domingo em Lisboa), a Associação dos Cidadãos Unidos por Macau elegeu três deputados, dos 14 lugares em disputa na votação por sufrágio directo, garantindo 26.593 votos.
Seguiu-se a União para o Desenvolvimento, com 23.760 votos, que conseguiu dois lugares, assim como a lista Nova Esperança, liderada pelo deputado José Pereira Coutinho, o único português a ser eleito, tendo esta força assegurado 18.232 votos.
“Há quatro anos tivemos 14 mil votos, nestas eleições foram mais de 18 mil. Somos agora a terceira força de Macau. Foi um excelente resultado”, afirmou à Lusa José Pereira Coutinho, que encabeçou a lista que elegeu dois dos candidatos.
A União de Macau-Guangdong, a União Promotora Para o Progresso e a Aliança de Bom Lar também elegeram dois candidatos cada, com o Poder da Sinergia a conquistar um mandato. A deputada Agnes Lam, que concorria pelo Observatório Cívico, não conseguiu a reeleição, uma das grandes surpresas destas eleições.
Dos 323.907 eleitores, votaram nas eleições para a Assembleia Legislativa de Macau 137.279, o que se traduziu na mais alta taxa de abstenção desde a criação da região especial administrativa chinesa, que ocorreu no final de 1999.
A comissão que gere as eleições indicou que a taxa de afluência foi de 42,38%, o que contrasta com a participação de 57% registada em 2017.
Além do recorde de abstenção, o processo eleitoral foi marcado pela desqualificação de 20 candidatos, 15 dos quais pró-democracia, por “não defenderem a Lei Básica da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau]” e por não serem “fiéis à RAEM”.
Questionada sobre o possível impacto da desqualificação dos candidatos na afluência nas urnas, a CAEAL afirmou que “cada leitor tem o direito de tomar a sua decisão” e que, “segundo o entendimento da CAEAL, esse não foi o factor principal”, refere o jornal de Macau Ponto Final. A comissão apontou a pandemia e o mau tempo como os entraves que contribuíram para a baixa participação eleitoral.