Uma jornalista, um bloguer e um videasta lançaram-se em busca da alma do interior do país
Rostos da Aldeia, projecto de Luísa Pinto, vai contar-nos histórias positivas daqueles que resistem ao despovoamento.
O despovoamento é feito de corpos ausentes. Mas também de gestos e palavras, de paisagens ainda, que se esquecem, tomadas por outros quotidianos. Com Rostos da Aldeia, um novo projecto divulgado esta segunda-feira, Luísa Pinto, jornalista, vai ao encontro do que sobra do Interior de Portugal, acreditando haver por ali razões de sobra para ficar e escutar as histórias de quem ficou, de quem voltou, de quem chegou. Serão histórias positivas, a puxar pela auto-estima de um território que dispensaria as más notícias que o levam em depressão, há décadas.
É nas áreas deprimidas deste Portugal a tombar para o mar que o trio liderado pela jornalista do PÚBLICO, e que inclui Filipe Morato Gomes, autor do famoso blogue de viagens Alma de Viajante e o videasta Tiago Cerveira – “ele próprio natural de uma aldeia no centro do país”, conta – vai procurar a alegria de viver. Na plataforma Rostos da Aldeia, acessível em www.rostosdaaldeia.pt, serão publicados filmes documentais sobre os lugares e, principalmente, sobre os seus habitantes “que terão bandas sonoras originais criadas pelo compositor Luís Pedro Madeira com base em sonoridades e instrumentos regionais; relatos na primeira pessoa e entrevistas aos protagonistas”, explicam.
Com vontade de instigar o desejo de visitar o país que tem tanto de baixa densidade quanto de beleza intensa, o projecto será acompanhado por guias práticos da autoria de Filipe Morato Gomes. A ideia, assumem, é que possam servir de roteiros e de inspiração para motivar mais pessoas a visitarem as aldeias de Portugal e a aumentarem a duração média das estadias”. As aldeias portuguesas serão “o ponto de partida para promover exemplos distintivos ligados à boa hospitalidade, à gastronomia de qualidade, às artes e ofícios, às tradições e à cultura popular”, antecipam.
Luísa Pinto, jornalista há mais de 20 anos e principal impulsionadora do projecto, afirma que o que se pretende é “por um lado, documentar a vida nos territórios do interior, com especial enfoque nos habitantes impulsionadores da mudança ou criadores da diferença; e, por outro, mostrar que as aldeias de Portugal podem ser locais de fruição, espaços que oferecem qualidade de vida e onde existem motivos de interesse regionais que os tornam únicos e distintivos”.
Depois de, em 2014, ter criado um portal dedicado aos bons exemplos da hotelaria portuguesa chamado Hotelandia, Luísa Pinto explica que, com Rostos da Aldeia quer “levar a atenção a essas aldeias, muitas das quais resistiram no tempo mesmo depois de quase se esvaírem de habitantes; revelar o quotidiano, as rotinas, o labor e o amor de que se faz a vida das suas gentes. Falar dos chamados territórios de baixa densidade enquanto lugares de oportunidades”. “Com espírito de missão mas sem romantismos, porque viver no interior não é um mar de rosas”, acrescenta Tiago Cerveira.
Em comunicado enviado à imprensa, o trio adianta que a plataforma dispõe também de uma loja online, a partir da qual se direccionam os visitantes, de forma gratuita e sem comissões, para produtos regionais ou serviços organizados localmente – como passeios guiados ou workshops de pão em forno a lenha. Com tudo isto esperam, “de alguma forma, contribuir para a vitalidade dos agentes económicos locais”, afirmam.
Nessa nota acrescentam que estiveram já na aldeia de Ferraria de São João, no município de Penela; em Campo Benfeito, no concelho de Castro Daire; e no conjunto de aldeias conhecido por Argas (Arga de Cima, Arga de Baixo e Arga de São João), em Caminha (a publicar brevemente) - em visitas ao longo das quais privaram “com pessoas inspiradoras como Eduardo Correia, director artístico do Teatro do Montemuro, as quatro mulheres fundadoras da cooperativa Capuchinhas, ou Mário Rocha, ideólogo do projecto artístico Arte na Leira, entre muitas outras”.