Biden apela à união no país para honrar memória do 11 de Setembro
Numa mensagem gravada em vídeo, o Presidente dos EUA lembrou os actos de discriminação contra os muçulmanos norte-americanos na sequência dos ataques, o que lhe valeu as críticas dos seus opositores.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, centrou a sua mensagem do 20.º aniversário dos ataques terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono, a 11 de Setembro de 2001, num apelo à união do país numa fase de grandes divisões políticas, que se aprofundaram no último ano com a pandemia de covid-19, a onda de protestos contra o racismo e a violência policial e a invasão do Capitólio.
Num vídeo gravado, Biden começou por recordar a história pessoal de um amigo de longa data com quem cresceu no estado do Delaware.
A 11 de Setembro de 2000 — um ano antes dos ataques terroristas —, Davis perdera o seu filho mais novo, com 15 anos, num acidente; no dia dos ataques, o seu filho mais velho morreu na segunda torre a ser atingida, seis dias depois de ter começado a trabalhar no 104.º andar da Torre Sul do World Trade Center.
“Dias depois, eu ia a caminho para falar com alunos da Universidade do Delaware sobre o novo mundo em que estávamos. Ele [Davis] disse-me para lhes dizer que não tivessem medo. A coragem que foi necessária, depois de duas perdas inimagináveis, é extraordinária. Mas é também a mais banal das qualidades americanas”, disse Biden — que perdeu a filha Naomi, com 13 meses de idade, num acidente de viação em 1972; e o filho mais velho, Beau, com cancro do cérebro, em 2015.
No vídeo de mais de seis minutos, o Presidente dos EUA recordou os familiares das 2977 vítimas mortais dos ataques — as que morreram no World Trade Center e no Pentágono, e os passageiros dos quatro aviões que foram sequestrados naquele dia, incluindo o avião que se despenhou na Pensilvânia por acção dos próprios passageiros.
A mensagem de empatia e compaixão com as vítimas do 11 de Setembro foi alargada também para fora dos limites culturais e territoriais dos EUA, o que provocou uma reacção negativa em sites ligados à extrema-direita nativistas como o Breitbart. Primeiro, Biden sublinhou que as vítimas dos ataques tinham 90 nacionalidades; depois, lembrou os muçulmanos norte-americanos que foram alvo de discriminação e crimes de ódio.
“Nos dias que se seguiram ao 11 de Setembro de 2001, vimos exemplos de heroísmo em todo o lado”, disse o Presidente dos EUA. “Mas também vimos forças mais sombrias da natureza humana. O medo, a raiva e a violência contra muçulmanos americanos, fiéis seguidores de uma religião de paz. Vimos a unidade nacional a vergar. E aprendemos que a unidade é a única coisa que não se pode partir.”
“Para mim, essa é a lição central do 11 de Setembro”, disse Biden, referindo-se à necessidade de união nos EUA. “Nos momentos em que estamos mais vulneráveis, numa batalha pela alma da América, a união é a nossa maior força.”
Os apelos à união nos EUA repetem-se numa fase da História do país marcada por divisões que põem em perigo a democracia americana, segundo vários especialistas.
Em menos de dois anos, sob o pano de fundo da primeira pandemia global em mais de um século, o país assistiu a dois processos de destituição de um Presidente dos EUA; a uma onda de protestos contra a violência policial e o racismo como não se via desde a década de 1960; e à primeira invasão do Capitólio por cidadãos do próprio país.
Para além das referências à discriminação dos muçulmanos norte-americanos, os críticos de Joe Biden acusam-no também de desvalorizar o 20.º aniversário do 11 de Setembro por não ter marcado nenhuma declaração ao país para este sábado.
Na conferência de imprensa diária na Casa Branca, na sexta-feira, a porta-voz do Presidente dos EUA, Jen Psaki, disse que isso não foi possível porque a agenda de Biden vai levá-lo a passar pelos três locais dos atentados ao longo do dia — a Baixa de Manhattan, na zona do Wold Trade Center; o Pentágono, no estado da Virgínia; e Shanksville, na Pensilvânia, no local onde o voo 93 se despenhou.