Merkel apela a voto em Laschet durante debate no Parlamento

Chanceler volta a criticar uma potencial coligação à esquerda quando a CDU aparece pela primeira vez com menos de 20% numa sondagem.

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Muitos deputados protestaram quando Merkel expressou o seu apoio a Laschet MICHELE TANTUSSI/Reuters

A chanceler alemã, Angela Merkel, usou esta terça-feira o que deverá ser o seu último debate parlamentar antes das eleições para dar um apoio claro ao candidato do seu partido, Armin Laschet, quando a União (CDU/CSU) está com valores historicamente baixos nas sondagens, e caiu esta terça-feira pela primeira vez na sua história abaixo dos 20% numa sondagem.

“Não é indiferente, quem governa este país”, declarou a chanceler, acrescentando que só um voto na CDU/CSU garante um governo com moderação e estabilidade.

Os cidadãos têm uma escolha: ou um governo que aceite o apoio de Die Linke [A Esquerda] com o SPD e os Verdes (...), ou um Governo liderado pela CDU com Armin Laschet como chanceler

A CDU tem insistido nesta potencial coligação, que incluiria o Partido Social-Democrata, os Verdes, e Die Linke (A Esquerda),como um perigo para a estabilidade da Alemanha e até a sua posição internacional. Não se trata apenas da questão da posição anti-NATO do partido, disse Merkel esta terça-feira, mas também de “decisões concretas de política económica e orçamental”.

Foram afirmações de campanha que levaram a aplausos da sua bancada mas a reacções de indignação das outras. “Meu Deus”, respondeu Merkel, “Não sei onde podemos então pôr estas questões, se não as podemos pôr aqui? É o coração da democracia.”

Mas a imprensa alemã está a ver as palavras como mais um sinal de desespero no partido conservador, que continua a não conseguir inverter uma tendência que o está a deixar atrás do Partido Social-Democrata, de Olaf Scholz, o ministro das Finanças.

Scholz tem-se apresentado como o representante, nas eleições, de um Governo competente. Tem dito que só consideraria uma coligação com Die Linke se o partido aceitasse certos princípios, e como é uma figura totalmente ao centro no SPD, é difícil imaginá-lo como o chefe de um governo de esquerda radical. Mas recusa-se a excluir esta opção, no que muitos analistas vêem como uma questão táctica para potenciais negociações de uma coligação, que deverá incluir pela primeira vez três partidos (no pós-guerra houve apenas uma excepção, logo nos anos 1950).

O jornalista de política do diário Die Welt Robin Alexander comentava no Twitter: “Até aqui na campanha, Scholz foi mais Merkel do que Laschet. Hoje no Parlamento, Scholz foi mais Merkel do que Merkel”.

Enquanto isso, o partido Die Linke apresentou as suas exigências para uma coligação a três. O economista Christian Odendahl, do Centre for European Reform, fez, no Twitter, uma análise às propostas. Diz que há propostas em que os três partidos poderiam concordar (salário mínimo, por hora, de 12 euros, propõem SPD e Verdes, Die Linke propõe 13 euros), outras em que poderia ter maior influência como as pensões, proibição de voos domésticos, mais ambiciosos ainda em termos de investimento metas de clima e investimento “mas não tão loucos como o Presidente Biden”, ironiza (Odendahl é defensor de mais investimento), e até tem previstos subsídios para indústria automóvel.

Ou seja, os pontos problemáticos continuam a ser a política externa (mas que influência teria o partido nesta esfera?, questiona o analista). “Nada disto é assustador”, diz Odendahl, sublinhando ainda que estas são as exigências do partido e não o programa do Governo. Ou seja, para Odendahl, “uma coligação com A Esquerda está a tornar-se precisamente o que o SPD precisa que ela seja: apenas suficientemente realista – tanto em termos de política como de popularidade – para se tornar uma ameaça credível ao FDP [Partido Liberal Democrata] nas conversações de coligação” que se seguirão às eleições e em que, segundo os valores actuais das sondagens, se destacam duas alternativas possíveis, a coligação à esquerda e uma coligação entre SPD, Verdes e FDP.

Especialistas em ciência política têm sublinhado que há ainda um número muito significativo de indecisos para as eleições de 26 de Setembro. Ainda assim, a mais recente sondagem do Instituto Forsa causou reacções, dando 25% ao SPD, 19% à CDU, 17% aos Verdes, 13% ao FDP, 11% aos nacionalistas da AfD e 6% à Esquerda (5% é o mínimo para ter representação parlamentar).

No Twitter, o professor de ciência política Kai Arzheimer começa por comentar a sondagem dizendo: “Lembrem-se que isto é uma sondagem, isto é, um retrato de um momento na opinião pública, afectada por erros aleatórios e não aleatórios, tirada numa situação muito volátil. O resultado vai ser diferente. Independentemente disso: Uau”.

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