Mulheres de 40 e muitos anos unidas por Julie Delpy na Netflix

On The Verge estreia-se na Netflix com maternidade, carreira e reinvenção no horizonte da primeira série de TV da actriz e realizadora tão reconhecida pela Geração X.

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Netflix

É aquela fase para uma actriz, em que os papéis escasseiam ou aceleram inesperada e surrealmente para serem mães de jovens actores de 30 anos. É também “aquela” fase para muitas mulheres, a dos quarenta e muitos anos, e por isso Julie Delpy (trilogia “Antes do, de Richard Linklater) decidiu fazer do tema e seu drama e comédia a sua primeira série de televisão. Estreia-se na Netflix na terça-feira, dia 7, e conta com Elisabeth Shue, Sarah Jones, Alexia Landeau e Giovanni Ribisi nos principais papéis. Detalhe: são mulheres que tiveram filhos mais tarde.

On The Verge, como “à beira de”, como em Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, tem como resumo a ideia de que quatro mulheres se vêem à entrada da segunda metade da sua vida ou do último terço da sua vida, com algum azar, e decidem reinventar-se e não acomodar-se. “Quis contar a história de mulheres que tiveram filhos bastante tarde, que estavam habituadas a ter mais liberdade e descobriram a maternidade aos 38 ao invés de aos 25 anos”, contou Delpy à revista Variety. “Acho que o feminismo não conseguiu integrar bem o conceito de maternidade. Especialmente na América, muitas mulheres têm de escolher entre maternidade e carreira”, opina. Culpa, sacrifício, mas também “educação, religião, raça e política” são temas de On The Verge.

Mas a maternidade é mesmo o ponto central, e a separação dos seus maridos ou companheiros também. Delpy é uma chef francesa. “Sempre me questionei o que faria se não fosse cineasta e a verdade é que uma das duas coisas que mais adoro no mundo é cozinhar”, diz, fascinada com a criatividade dos chefs, partilhando histórias de amor através dos pratos que confecciona com o filho.

Ser uma “série de mulheres” é um rótulo que cada vez mais pede nuance. A que Delpy, rosto de um certo cinema independente da Geração X e actriz que filmou com Jean-Luc Godard ou Krzysztof Kieslowski, criou quer distinguir-se por mostrar “um elenco de mulheres de meia-idade que têm coisas para dizer, que se divertem, que trabalham no duro e se reinventam é raro. A nossa vida não acaba aos 50: é o que quero dizer a Hollywood, França e a todos”.

É, como assinala a revista Variety numa entrevista com a actriz, realizadora e argumentista francesa, uma das poucas séries que foi filmada em Los Angeles entre confinamentos. Filmar em Los Angeles é caro, apesar dos incentivos do estado da Califórnia, e a covid-19 tornou tudo mais caro (a factura dos equipamentos de protecção pessoal, rodagem de equipas e afins ascendeu aos 2 milhões de dólares).

O orçamento é dividido entre a gigante do streaming e o Canal+ francês e a produção teve os revezes que já são costumeiros nos projectos que avançam apesar da pandemia: casting ou ensaios em Zoom, limitações às viagens, quarentenas e ausência de participações especiais porque os actores não queriam arriscar contágios para trabalhos muito curtos. A pandemia entranhou-se no guião, mas como algo no horizonte, difuso incerto. “É por isso que o título da série tem um duplo significado: o mundo à beira de alguma coisa”, disse à Variety.

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