De gravata e calças de ganga, o eurodeputado segue viagem no PSD com elogios no bolso
Paulo Rangel foi o convidado da candidatura autárquica de Alcobaça. Não falou do partido nem tirou selfies.
No palco, um cartaz promovia o convidado da sessão com um teaser — “Paulo Rangel, uma visão de futuro”. Na plateia do auditório, ao final do dia de quarta-feira, apoiantes e candidatos do PSD à Câmara de Alcobaça ouviam, em silêncio, o eurodeputado, interrompendo com palmas de vez em quando. Não falou do partido nem se alongou nos comentários sobre o país. São eleições autárquicas e Paulo Rangel adaptou o discurso ao local.
A sua intervenção foi o remate de cinco discursos de protagonistas locais — da candidata à junta de freguesia da Benedita ao cabeça de lista à câmara de Alcobaça — que Paulo Rangel escutou disciplinadamente sentado na primeira fila. Quando chegou ao púlpito, destacou um ou outro aspecto de cada um dos anteriores discursos num tom elogioso, socorrendo-se de notas que levou em papel. Falou da história de Alcobaça e saudou de forma muito positiva o slogan da campanha (“Aqui e consigo”) de Hermínio Rodrigues, o candidato do PSD que tentará suceder ao actual presidente social-democrata Paulo Inácio.
De casaco tweed, gravata e calças de ganga, o eurodeputado disse ver o encontro como “um acto de cidadania”, elogiou os autarcas em geral — “deram a cara pela pandemia e arriscaram a sua vida pela dos outros” — e arrancou uma vigorosa salva de palmas na única vez em que criticou o Governo por beneficiar quem não precisa. Depois de 10 minutos de discurso, as palmas, as bandeiras ao alto e alguns cumprimentos dos candidatos encerraram a sessão. Sem selfies e sem outras interpelações de militantes anónimos ao convidado. Abordado por jornalistas, Rangel queria escapar às perguntas. Desvalorizou as suas presenças nesta campanha eleitoral — “toda a vida acompanhei autárquicas” — mas assegurou que “estará onde as pessoas estiverem” e “em alguns sítios”. No corredor de acesso à saída do auditório do centro cultural Gonçalves Sapinho, as conversas continuaram à volta da campanha autárquica local.
Nos últimos dois meses, Paulo Rangel aceitou convites para estar presente em iniciativas autárquicas do PSD num roteiro que pode ser útil para quem aspira a outros lugares no partido. Nessa ronda já esteve com candidatos que foram apoiantes de Rui Rio, Luís Montenegro e de Miguel Pinto Luz nas eleições internas. Nesta quarta-feira, uma hora e meia depois da sessão na Benedita, em Alcobaça, o eurodeputado seguiu para Porto de Mós, onde esteve na apresentação do programa eleitoral do candidato à câmara, Jorge Vala, que foi apoiante de Rui Rio nas últimas directas. Aí, tal como em Alcobaça, uma voz off leu a mesma nota biográfica do convidado: quando e onde nasceu, estudou, e como se define — “um cristão de cultura católica e federalista”. A única referência política ao partido feita na breve apresentação é ao fundador do PSD, que morreu em Camarate. “Ainda em criança vibrava com a política: o PPD e Sá Carneiro”. Fica, assim, apresentado um possível candidato à liderança do PSD num futuro próximo.