Tiros no Palácio Presidencial da Guiné-Conacri: golpe bem sucedido ou tentativa falhada?

Informações contraditórias sobre destino do Presidente, Alpha Condé, que no ano passado foi declarado vencedor de uma eleição controversa, depois de ter alterado a Constituição para concorrer a um terceiro mandato.

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Carro de combate nas ruas de Kaloum, zona central da capital, Conacri SALIOU SAMB/Reuters

Um grupo de militares reclamou a tomada do poder na Guiné-Conacri, com o líder do golpe a anunciar numa emissão na televisão estatal que a Constituição foi suspensa, o governo dissolvido e as fronteiras fechadas, quando surgia um vídeo que mostrava a aparente detenção do Presidente, Alpha Condé, de 83 anos. Por outro lado, o Ministério da Defesa disse que as suas forças “repeliram um ataque” ao Palácio Presidencial e que estavam “a restaurar a ordem”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar a seguir pessoalmente a situação de muito perto. No Twitter, Guterres declarou ainda: “condeno qualquer tomada do poder pela força das armas e peço a libertação imediata do Presidente Alpha Condé”​. 

Na emissão televisiva apareceu o antigo membro da legião francesa Mamady Doumbouya, considerado o líder do golpe, dizendo, segundo o diário norte-americano The Washington Post, que o motivo para a acção era o “espezinhar dos direitos dos cidadãos” e o “desrespeito dos princípios democráticos” de Condé. O plano era formar um governo de transição e os detalhes seriam anunciados mais tarde, disse ainda Doubouya. As fronteiras do país estavam fechadas “Apelamos aos nossos companheiros de armas para se juntarem ao povo.”

Parecia certo que as trocas de tiros ouvidas horas antes tinham sido uma tentativa de golpe. Se tinha ou não sido bem-sucedido e o paradeiro de Condé eram as grandes dúvidas. Mesmo assim, houve pessoas a festejar nas ruas. “A Guiné está livre! Bravo!” disse uma mulher à janela.

“O Presidente proclamava que queria governar de modo diferente atacando a corrupção, mas cada vez mais aumentava o desvio de dinheiro público”, disse Alassane Diallo, um residente de Conacri, à Reuters. “Isso facilitou as coisas aos militares.”

Condé foi declarado o vencedor das eleições de Outubro de 2020 depois de ter alterado a Constituição para se poder recandidatar, apesar de protestos da oposição, que o acusou de “golpe de Estado constitucional”.

A oposição disse na altura que pelo menos 90 pessoas morreram no último ano devido a incidentes durante manifestações contra uma nova candidatura de Condé. A violência pós-eleitoral causou pelo menos uma dezena de mortes, segundo a agência Lusa.

Tudo isto aumentou a preocupação com um retrocesso na região depois de ter havido golpes no Mali e no Chade.