Nos 45 anos da autonomia dos Açores, Marcelo admite ter saudades dos primeiros debates ideológicos
À chegada, o Presidente da República participou na homenagem ao primeiro presidente da Assembleia Legislativa Regional. Neste sábado, discursa na sessão solene do parlamento açoriano.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, admitiu na sexta-feira à noite ter “saudades” dos primeiros debates ideológicos, nos primórdios da criação da democracia portuguesa, em 1976, em oposição aos tempos actuais, da “gestão política corrente”.
“Eu tenho, de vez em quando, saudades do tempo mais ideológico da nossa democracia, mas é quase uma inevitabilidade que depois de um tempo quase heróico, e dos grandes debates doutrinários ideológicos, haja depois o tempo da gestão política corrente” revelou o chefe de Estado, durante a inauguração da Biblioteca Álvaro Monjardino, construída na sede do parlamento açoriano, na cidade da Horta, em homenagem ao primeiro presidente da Assembleia Legislativa Regional.
Marcelo Rebelo de Sousa provocou alguns risos entre os convidados, quando lembrou que os trabalhos da então Assembleia Constituinte, em que teve a honra de participar, tinham uma “intensidade única”, de tal forma que havia dias que podiam ter 48, 72 ou 150 horas, numa alusão ao empenho, dedicação e trabalho desenvolvido nos primórdios da democracia.
“Acabei por ser o único Presidente da República que votou, na generalidade, na especialidade, e em votação final global, a Constituição da República Portuguesa”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa, recordando que Mário Soares também fez parte da Assembleia Constituinte, mas acabou por ter uma presença “fugaz”, por ter integrado os primeiros governos provisórios.
O Chefe de Estado disse também que todos aqueles que integraram a Assembleia Constituinte, deram o seu contributo ao “entendimento unânime acerca da importância do que é um pilar estrutural do estado de direito e do constitucionalismo contemporâneo português: a autonomia dos Açores e da Madeira”.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou ainda as principais características do primeiro presidente da Assembleia Legislativa dos Açores, Álvaro Monjardino, também presente na cerimónia, que recordou como sendo um político “visceralmente independente”, mas demasiado modesto, ao ponto de ter recusado a maioria das homenagens que lhe pretendiam fazer.
“Eu penso que seria um grande problema construir democracias só com personalidades como o presidente Álvaro Monjardino. Seria muito complicado”, ironizou o Presidente da República, arrancando vários sorrisos entre os convidados, acrescentando que, por outro lado, as democracias sem personalidades como o homenageado, começariam por ser uma “monotonia” e acabariam numa “crise institucional”.
Álvaro Monjardino nasceu em Angra do Heroísmo em 1930, foi advogado, deputado à Assembleia Nacional, membro da Junta Regional dos Açores, deputado à Assembleia Legislativa Regional e ministro-adjunto do primeiro-ministro, Carlos Mota Pinto, entre 1978 e 1979.
O homenageado, agora 90 anos de idade, preferiu recordar os tempos das primeiras semanas de estudo que ocorreram em Ponta Delgada, há cerca de 70 anos, por iniciativa de três padres açorianos, que segundo explicou, “marcaram” a sua geração e terão estado na origem do surgimento da democracia açoriana.
A inauguração da Biblioteca Álvaro Monjardino, que reúne um espólio com cerca de 3500 títulos, maioritariamente relacionados com temas parlamentares e políticos, está inserida das comemorações dos 45 anos da autonomia, que atingem o seu ponto alto este sábado, com uma sessão solene a realizar na sede do parlamento, presidida por Marcelo Rebelo de Sousa.