Ministro promete fazer lobby contra despedimentos na banca, diz sindicato

Sindicatos vão esperar alguns dias antes de tomarem medidas. Com o número de saídas, “por medo”, os despedimentos colectivos podem já não ser necessários.

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Nuno Ferreira Santos

Os três sindicatos bancários afectos à UGT, o Mais Sindicato e os sindicatos do Centro e do Norte, reuniram-se esta sexta-feira com o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, e com a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, para lhes apresentarem “o drama vivido no sector no último ano”, dada a pressão de dois dos maiores bancos a operar no mercado nacional, o BCP e o Santander, para a saída de cerca de dois mil trabalhadores. Os ministros ficaram “sensibilizados” com a exposição dos sindicatos, e “o ministro da Economia comprometeu-se a falar com os presidentes dos dois bancos, de forma a travar o recurso a despedimentos colectivos”, adiantou ao PÚBLICO a directora do Mais Sindicato, Cristina Damião.

Mas o ministro pode ter a vida facilitada. É que, como reconhece a responsável pela contratação colectiva do Mais Sindicato, apesar de as duas instituições terem fixado uma data limite para que os trabalhadores aceitarem as propostas de rescisão por mútuo acordo ou reforma, que já expirou há mais de uma semana, as saídas têm continuado.

Assim, o número de trabalhadores a integrar em despedimento que tinha sido anunciado pelos bancos em causa – 350 no caso do banco Santander e cerca de 100 no BCP – pode já ser residual, e não justificar processos tão drásticos.

Cristina Damião reconhece que estas saídas acontecem por “medo”, e que para isso contribuíram as “ameaças de despedimentos colectivos”. E refira-se que a indemnização por mútuo acordo é substancialmente mais elevada do que a por despedimento colectivo.

Os próprios sindicatos afectos à UGT, cujo secretário-geral, Carlos Silva, esteve presente no encontro, vão ficar a aguardar pelas diligências do ministro da Economia, e pelos números finais de trabalhadores que aceitaram sair, para decidir formas de luta, que, conforme anunciaram, pode incluir o recurso à greve.

Os sindicatos procuraram ainda sensibilizar os dois governantes para “a injustiça de despedimento de centenas de trabalhadores por parte de instituições que dão lucro”. E para as perdas decorrentes de deixarem de beneficiar dos serviços de saúde particulares, sobrecarregando o sistema nacional de saúde.

“Os ministros, em nome do Governo, prometeram agir, debatendo os despedimentos colectivos com os presidentes do Banco Santander Totta e do BCP, respectivamente Pedro Castro e Almeida e Miguel Maya”, adiantam os sindicatos em comunicado, onde acusam os bancos de, “aproveitando a situação que o país, usarem o pretexto da aceleração digital provocado pela pandemia para reduzir custos à custa dos trabalhadores”.

“Centenas de bancários já saíram do sector, a maior parte sob a ameaça de despedimento colectivo”, referem.

Entretanto, os três sindicatos dizem ainda que “não vão baixar os braços” e tem agendado para 15 de Setembro, a pedido da UGT, a realização de uma cimeira com a UGT espanhola e os delegados sindicais no Banco Santander em Espanha. “Os três Sindicatos da UGT aguardam ainda a tomada de posição internacional, que culminará com uma queixa à Comissão Europeia e ao Banco Central Europeu, assinada pelas organizações sindicais internacionais CES, CSI, UNI e grupo de trabalhadores do Comité Económico e Social Europeu (CESE)”, lê-se no comunicado.

Em protesto com a situação dos trabalhadores nos dois bancos, o Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários (SNQTB) anunciou recentemente a marcação de um dia de greve nas instituições em causa. A greve no Banco Santander está marcada para o próximo dia 13 de Setembro, e no Banco Comercial Português para o dia 17.

Este sindicato independente anunciou ainda a constituição de um fundo, de um milhão de euros, para apoiar trabalhadores que decidam impugnar a decisão unilateral dos bancos, se esta vier a concretizar-se.

Os bancos a operar em Portugal tinham no final do ano passado menos 2066 trabalhadores e 655 balcões do que em 2019, atingindo no ano passado o número de agências mais baixo desde 1996 e o menor número de funcionários pelo menos desde 1992, revelam dados do banco de Portugal.

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