Nesta fábrica, a urina torna-se ouro: um valioso, mas nada raro, fertilizante agrícola

A urina humana pode ser uma alternativa amiga do ambiente, inesgotável e eficaz para fertilizar campos de cultivo. A startup francesa Toopi prepara a sua entrada no mercado e já tem como ponto de recolha as casas de banho dos Jogos Olímpicos de Paris, de onde espera levar o ouro.

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Toopi Organics

À partida, adubar uma horta com urina parece uma ideia absurda. Mas não é impossível que uma pessoa sonhe e a obra nasça. Em 2018, Matthieu Préel comentou com um amigo como era caro eliminar toda a urina que chegava à estação de tratamento de resíduos onde trabalhava, em Bordéus. Para Michael Roes, empregado numa empresa de fertilização, fez-se luz. “Pensei logo que seria muito mais fácil reutilizar urina na agricultura.”

A ideia só podia correr bem, uma vez que a urina contém nutrientes importantes para as culturas, como o azoto, potássio e fósforo. O desafio era apenas torná-la concentrada o suficiente para competir com as grandes marcas de fertilizantes.

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Michael Roes, um dos fundadores da Toopi Organics. Toopi Organics

Michael Roes experimentou, então, fermentá-la e adicionar bactérias para ajudar as plantas a absorver nutrientes de que precisam. E resultou. “Quem faz vinho adiciona bactérias ao sumo de uva para o transformar noutra coisa. Nós fazemos o mesmo – mas com urina”, explica, citado pela Wired.

Michael Roes e Matthieu Préel fundaram, em 2019, a startup Toopi Organics, uma empresa de biotecnologia que transforma urina humana em fertilizante. A Escola Nacional de Engenharia Agrícola de Bordéus concluiu, mais tarde, que o fertilizante da Toopi ajuda as plantações de milho a crescer 60% a 110% mais do que os produtos tradicionais. Um menor recurso a produtos químicos é, também, sinónimo de diminuição do impacto ambiental da actividade agrícola.

A descoberta, contudo, não é nova. E não começou com Kanye West, que quer no seu rancho de luxo em Wyoming, nos Estados Unidos da América, uma ecológica “horta de urina”. Antes do domínio da indústria petroquímica, já metade da urina humana em Paris era reutilizada, explica Fabien Esculier, investigador na École des Ponts ParisTech.

O fertilizante da Toopi ainda não tem autorização para venda no mercado, mas a empresa tem intrigado alguns e conquistado outros, até o governo francês. Em Abril, recebeu 3,8 milhões de euros da Agência Francesa para a Transição Ecológica para criar uma rede de reaproveitamento de urina. Um dos pontos de recolha com que a Toopi já conta é o estádio dos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, onde espera conquistar o ouro. Aí serão instaladas sanitas que não utilizam água, próprias para este processo.

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